Mudança de rumo nas Nações Unidas pedida pelo Cardeal Secretário de Estado Angelo
Sodano,intervindo em Nova Iorque na cimeira de chefes de estado e de governo
O Secretário de Estado do Vaticano, Cardeal Angelo Sodano, levou até à cimeira de
chefes de Estado e de Governo na ONU um pedido de mudança de rumo na acção das Nações
Unidas.
“Este organismo, como qualquer realidade humana, sofreu muito desgaste no decorrer
destes 60 anos. Há agora uma convicção comum de que deve renovar-se, enfrentando os
grandes desafios do momento presente”, disse em Nova Iorque.
Explicando que a ONU “não é um supergoverno, mas o resultado da vontade política de
cada um dos países membros”, o Cardeal Sodano classificou, em nome dos católicos de
todo o mundo, as Nações Unidas “como uma instituição cada vez mais necessária para
a paz e o progresso de toda a humanidade”.
A renovação, afirmou, deve oferecer a todos os povos “uma instituição moderna, capaz
de proferir determinações e de fazê-las respeitar”. Nesse sentido, apelou à criação
de instrumentos jurídicos internacionais para o desarmamento e para o controlo do
armamento, para a luta contra o terrorismo e o crime transnacional e para a cooperação
efectiva entre as Nações Unidas e os organismos regionais, a fim de resolver as situações
de conflito.
“Este é um apelo importante que chega até nós por parte de homens e mulheres decepcionados
por promessas feitas e não cumpridas, por resoluções adoptadas e não respeitadas”,
lamentou.
Comissão para a consolidação da paz
O Cardeal Sodano revelou que a Santa Sé é favorável à criação de uma “Comissão para
a consolidação da paz” para actuar em países que sofrem confrontos armados.
“É importante o compromisso que assumimos para fomentar uma cultura de prevenção dos
conflitos, mas também será necessário aprofundar bem o problema do uso da força para
desarmar o agressor”, apontou.
O representante católicos pediu aos Estados “a coragem de continuar os debates sobre
os modos de aplicação e as consequências práticas do princípio da ‘Responsabilidade
de proteger”.
A fim de se atingir algum sucesso nesta missão, o Cardeal Sodano recordou a importância
dos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio, pedindo que os mesmos sejam assumidos
como “um dever de justiça ao serviço da dignidade humana e, ao mesmo tempo, uma condição
indispensável para a paz e para a segurança colectiva, inclusive a eliminação ou redução
substancial do perigo do terrorismo e da criminalidade internacional”.
Este compromisso pelo desenvolvimento, no qual o Secretário de Estado do Vaticano
sublinhou “vários gestos promissores” ao longo dos últimos anos, implica uma “mobilização
económica e financeira solidária” e a abordagem do problema da dívida dos Países mais
pobres, que a Santa Sé considera estar ainda por fazer.
Repetindo as palavras de João Paulo II na sua célebre viagem ao Chile em 1987, o Cardeal
Sodano vincou que “os pobres não podem esperar”.
Contra o aborto
O discurso do representante católico foi particularmente duro no que diz respeito
ao conceito de “saúde reprodutiva”, considerando que esta terminologia defende “um
direito ao aborto”.
“Não seria melhor falar claramente de ‘saúde das mulheres e das crianças’?”, perguntou.
“À humanidade exposta às actuais pandemias e a outras perigosamente à espreita, às
massas de seres humanos privados de acesso à saúde básica e à água potável não podemos
oferecer uma visão ambígua, limitada ou, sem mais, ideológica da saúde”, advertiu
o Cardeal Sodano.
Aos governos dos países em vias de desenvolvimento, o Secretário de Estado do Vaticano
exigiu o compromisso sério “de combater a corrupção, garantir a legalidade e, sobretudo,
de comprometer-se nos aspectos sociais do desenvolvimento”.