CARDEAL ARNS CRITICA PRESIDENTE LULA: "DISTANCIOU-SE DO POVO"

São Paulo, 30 ago (RV) - "O problema de Lula é que ele se distanciou do povo": com essa frase lapidar, o Cardeal Paulo Evaristo Arns, Arcebispo emérito de São Paulo, um dos baluartes da luta antiditadura no Brasil, analisou a crise política que envolve o governo e o Partido dos Trabalhadores.

Numa entrevista ao jornal econômico "Valor", o Cardeal Evaristo Arns disse: "Não falta competência a Lula: ele é inteligente, intuitivo", contrapondo-se às elites "letradas" que minimizam as capacidades intelectuais do presidente brasileiro.

Segundo o purpurado, "o povo quer falar, quer democracia, quer verdade e, sobretudo, não quer ser enganado por seus líderes, como está acontecendo agora".

Seu descontentamento com Lula não o leva, entretanto, a renegar seu sentimento de amizade para com o Presidente do Brasil. "Fui visitá-lo nas grandes greves (de 1980 e 1981) quando ficou detido por 31 dias, no Departamento de Ordem Política e Social (DOPS - órgão hoje extinto)".

Segundo o Cardeal Arns, quem é chefe deve ser responsável por tudo o que acontece entre seus subalternos: no seu governo "Lula ignorou as comunidades de base, que são capazes de reunir dez mil pessoas em dez minutos". "Lula se preocupou unicamente com o dinheiro para manter o Brasil como um protagonista de nível mundial. Isso é uma utopia que não interessa ao povo. O povo precisa comer, quer estudar e progredir."

Para o Cardeal, Lula deveria ter consultado o povo e obtido seu apoio para as propostas que queria implementar.

O Cardeal Arns não perdeu a oportunidade de dar conselhos à "ovelha desgarrada". Disse que "a natureza precisa de chuva, de sol e do escuro". "Se você aprende a distinguir as coisas, poderá tirar proveito delas. Mas para que isso ocorra, deverá ser orientado pelas pessoas adequadas."

Com sua linguagem religiosa, o Cardeal Paulo Evaristo Arns fez duas recomendações a Lula: que aprenda a distinguir o joio do trigo e que escolha bons conselheiros, para ajudá-lo a extrair o melhor do povo brasileiro. (MZ)