A proxima jornada mundial da juventude será em Sydney, na Austrália, em 2008. A noticia
foi dada por Bento XVI no final da celebração eucaristica de encerramento da JMJ de
Colonia. Um "não" firme do Papa á religião que se torna produto de consumo
Num ambiente de grande intensidade, cerca de um milhão de jovens participaram, neste
domingo de manhã, em Marienfeld, nos arredores de Colónia, à Eucaristia conclusiva
da Jornada Mundial da Juventude 2005, presidida por Bento XVI, que no final da celebração
anunciou o lugar e a data da próxima JMJ, Sidney, Austrália, em 2008.
A homilia do Papa nesta Eucaristia final da JMJ de Colónia constituiu uma bela catequese,
ao mesmo tempo simples e densa, sobre o mistério eucarístico, que se pode de certo
modo resumir com algumas das palavras iniciais da sua intervenção: Na Eucaristia a
adoração deve-se tornar união. Mediante a Eucaristia, a hora de Jesus torna-se a nossa
hora, sua presença no meio de nós. Na última ceia, Jesus segue os ritos de Israel
(da ceia pascal), recitando a oração de louvor e de bênção. Mas algo de novo acontece:
Ele dá graças a Deus não só pelas grandes obras do passado; dá-Lhe graças pela sua
própria exaltação que se realizará mediante a Cruz e a Ressurreição.
“Como pode Jesus distribuir o seu Corpo e o Seu Sangue? Fazendo do pão o seu Corpo
e do vinho o seu Sangue, Ele antecipa a sua morte, aceita-a no seu íntimo e transforma-a
numa acção de amor. O que externamente é violência brutal, de dentro torna-se um acto
de amor que se dá totalmente. É esta a transformação substancial que se realizou no
cenáculo e que se destinava a suscitar um processo de transformações cujo termo último
é a transformação do mundo até que Deus seja tudo em todos. Desde sempre todos os
homens de certo modo esperam no seu coração uma mudança, uma transformação do mundo.
“É este o único acto central de transformação capaz de renovar autenticamente o mundo:
a violência transforma-se em amor, a morte – em vida. Este acto transmuta a morte
em amor, a morte como tal está já superada no seu interior, nela está já presente
a ressurreição.
“A morte é, por assim dizer, intimamente ferida, de tal modo que não será ela a última
palavra. É esta, para usar uma imagem a nós bem conhecida, a fissão nuclear levada
ao mais íntimo do ser – a vitória do amor sobre o ódio, a vitória do amor sobre a
morte. Só esta íntima explosão do bem que vence o mal pode suscitar a cadeia de transformações
que pouco a pouco irão transformando o mundo. Todas as outras transformações permanecem
superficiais e não salvam. É por isso que nós falamos de redenção”.
Recordando que “esta primeira transformação fundamental da violência em amor, da
morte em vita arrasta consigo outras transformações”, observou Bento XVI: “Pão e vinho
tornam-se o seu Corpo e Sangue... dados a nós para que nós próprios sejamos por nossa
vez transformados... no Corpo de Cristo, consanguíneos d’Ele... Deus não está apenas
diante de nós, como o Totalmente Outro. Está dentro de nós, e nós estamos n’Ele. A
sua dinâmica penetra-nos, para propagar-se aos outros e estender-se a todo o mundo,
para que o seu amor se torne realmente a medida dominante do mundo”.
Neste contexto, o Papa – exprimindo-se em inglês - expôs de modo sugestivo a diferente
acepção da palavra “adoração”, em grego e em latim:
“A palavra grega é proskynesis, que significa gesto de submissão, reconhecer a Deus
como nossa verdadeira medida, cuja norma aceitamos seguir. E então liberdade não quer
dizer gozar a vida, considerar-se absolutamente autónomos, mas sim orientar-se seguindo
a medida da verdade e do bem, para nos tornarmos verdadeiros e bons...
“A palavra latina para ‘adoração’ é ad-oratio – contacto boca a boca, beijo, abraço,
isto é – amor. A submissão torna-se união, porque aquele a quem nos submetmos é Amor.
É assim que submissão adquire um sentido, porque não se nos impõe algo de exterior,
mas nos liberta no mais íntimo do nosso ser”
A novidade que teve lugar na Última ceia, observou ainda o Papa, agora em francês,
consistiu na nova profundidade da antiga oração de bênção, de Israel, que a partir
dali se torna numa palavra de transformação e nos dá a participação na “hora” de Cristo.
« É por isso que nós designamos este acontecimento Eucaristia, tradução da palavra
hebraica beracha, que significa acção de graças, louvor, bênção, e portanto transformação
a partir do Senhor: presença da sua ‘hora’.
A hora de Jesus é a hora em que vence o amor. Por outras palavras: foi Deus que venceu
porque Ele é amor. A hora de Jesus deve tornar-se a nossa hora e tornar-se-á se nós
próprios, pela celebração da Eucaristia, nos deixarmos envolver neste processo de
transformação que o Senhore tem em vista. A Eucaristia deve tornar-se o centro da
nossa vida”.
Neste contexto, Bento XVI sublinhou a importância do Domingo, o Dia do Senhor, dia
da Eucaristia, dia da renovação de toda a criação, insistindo na necessidade de não
reduzir o domingo a mero “tempo livre”. O domingo é um dia vazio, se Deus não está
presente – advertiu o Papa, dirigindo-se aos jovens. “Não vos deixeis dissuadir de
participar na Missa dominical. Ajudai outros a descobrir o sentido do domingo. Descubramos
a profunda riqueza da liturgia da Igreja e a sua verdadeira grandeza. Não somos nós
que fazemos a festa, ao contrário: é o próprio Deus vivo que prepara uma festa para
nós”.
Falando em italiano, o Papa exortou os jovens que encontraram Cristo a encaminhar
para Ele os outros, até porque não se pode guardar para si uma grande alegria, há
que a transmitir. “Em muitas partes do mundo, Deus é estranhamente esquecido. Parece
que tudo vai igualmente bem sem Ele. Mas ao mesmo tempo existe um sentimento de frustração,
de insatisfação. E as pessoas são levadas a dizer: não é possível que viver seja isto.
E têm razão”.
Paralelamente a este afastamento de Deus, observou Bento XVI, existe também, como
que um “boom” do “religioso”. Sem querer desacreditar tudo o que existe neste campo,
o Papa quis pôr os jovens de sobreaviso sobre uma religião objecto de consumo:
“Muitas vezes a religião torna-se como que um produto de consumo. Escolhe-se aquilo
que agrada, e há quem saiba tirar daí lucros... Mas a religião procurada desta maneira
consumista ao fim e ao cabo não nos ajuda. É cómoda, mas nas horas críticas abandona-nos
a nós mesmos.
“Ajudai os homens a descobrirem a verdadeira estrema que nos indica o caminho: Jesus
Cristo! Procuremos nós próprios conhecê-Lo melhor para poder de modo convincente guiar
também os outros para Ele”.
Neste contexto, o Papa recomendou o amor pela Sagrada Escritura, lida à luz da fé
da Igreja, pois – observou – é o Espírito Santo que guia a Igreja na sua fé crescente,
fazendo-a penetrar cada vez mais na profundidade da verdade. Bento XVI recomendou
aos jovens presentes em Colónia o “Catecismo da Igreja Católica” e o recentemente
publicado “Compêndio” dessa mesma obra.
Mas os livros não bastam. Há que viver a dimensão comunitária da vida cristã. Os
frutos da Eucaristia hão-de manifestar-se na vida, na capacidade de perdão, nas actividades
de voluntariado aos serviço dos que mais precisam. Se pensamos e vivemos em comunhão
com Cristo, então abrem-se-nos os olhos. E então não nos resignaremos a arrastar a
vida, em tom menor, pensando só em nós próprios, mas descobriremos onde e como poderemos
pôr a nossa vida ao serviço dos outros, dando assim o testemunho que o mundo espera
dos discípulos de Jesus Cristo.
No final da celebração, depois de ter agradecido a todos os que contribuiram para
o êxito desta Jornada Mundial da Juventude, de Colónia, Bento XVI anunciou, como já
referimos, que a próxima JMJ terá lugar daqui a três anos, na Austrália, em Sydney.
Entre as saudações finais, dirigidas em variadas línguas aos jovens presentes, não
faltou uma em português:
“Saúdo também com afecto a juventude aqui presente que fala em português. Espero,
meus caros jovens, que vivais sempre como amigos de Jesus, para experimentar a verdadeira
alegria de ser filhos de Deus, e de comunicá-la aos vossos semelhantes, especialmente
aos que padecem maiores dificuldades”.