A Santa Sé refuta as acusações de Israel, afirmando que em matéria de terrorismo
não recebe lições de ninguèm
A Santa Sé publicou no final do dia de ontem um duro comunicado onde refuta as acusações
do governo israelita relativamente aos “silêncios” de Bento XVI e João Paulo II relativamente
aos actos terroristas em Israel.
A nota responde directamente às declarações do porta-voz do ministério israelita dos
negócios estrangeiros, Nimrod Barjan, citado esta terça-feira pelo “Jerusalem Post”,
que acusa a Santa Sé de ter “há vários anos uma política de não condenar o terrorismo
em Israel”.
O comunicado assegura que, nesta matéria, a Santa Sé não recebe lições de ninguém,
assegurando que “da mesma forma que o governo israelita não deixa que outros ditem
o que tem a dizer, a Santa Sé não pode aceitar receber lições e directivas de outra
autoridade sobre a orientação e conteúdo das suas declarações”.
O incidente diplomático começou após Bento XVI ter condenado vários ataques terroristas,
no dia 24 de Julho, sem citar o atentado de 12 de Julho, em Netanya. Nimrod Barjan
foi mais longe nas suas acusações e disse que mesmo João Paulo II não tinha sido suficientemente
firme na condenação de atentados em Israel, pelo que o governo israelita iria agora
manifestar sistematicamente o seu descontentamento “para modificar esta atitude” da
Santa Sé.
Para os responsáveis da Santa Sé, Nimrod Barjan estaria agora a disfarçar o “carácter
infundado” das acusações a Bento XVI, tentando desviar as atenções sobre os “pretensos
silêncios” de João Paulo II.
Nesse sentido, o comunicado enumera uma série de intervenções do Papa polaco “contra
todas as formas de terrorismo e contra os atentados que visaram Israel, em particular”.
A Santa Sé lembra, contudo, que “nem sempre foi possível publicar uma condenação para
cada atentado contra Israel” por considerar que estes foram seguidos, muitas vezes,
“de reacções israelitas nem sempre conformes às normas do direito internacional”.
O texto lembra que, apenas mês e meio antes de morrer, João Paulo II rezou “pela paz
no Médio Oriente” e que condenou de forma contínua, perante milhões de pessoas nas
Mensagens Urbi et Orbi, catequeses, audiências e encontros com delegações hebraicas
“o terrorismo contra os habitantes da Terra Santa”.
O Papa Wojtyla marcou sempre os seus discursos em favor dos direitos do povo palestiniano
com “palavras inequívocas de repúdio dos métodos violentos, que mediante actos terroristas
perpetrados contra a população civil israelita, impediram iniciativas de paz”.
A Santa Sé assegura que é uma “penosa surpresa” ver que alguém pode ignorar que “no
decorrer de 26 anos de pontificado, a voz do Papa João Paulo II se elevou tantas vezes
com força e paixão na dramática situação da Terra Santa, para condenar qualquer acto
terrorista e convidar a sentimentos de humanidade e de paz”.
Em conclusão, a Santa Sé refere que “as afirmações contrárias à verdade histórica
apenas podem servir a quem pretende fomentar a animosidade e o confronto, mas por
certo não servem para melhorar a situação”.
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