2005-07-27 11:42:03

Primeiro incidente diplomático sério do pontificado de Bento XVI:criticas do governo israelita podem ser "cortina de fumo" para esconder intenção de abandonar as negociações com a Santa Sé.


A enérgica condenação do terrorismo que o Papa fez no passado Domingo, após a oração do Angelus, está na origem do primeiro incidente diplomático sério do seu pontificado.
O Ministério dos Negócios Estrangeiros israelita lamentou em comunicado que “o Papa tenha omitido condenar o atentado terrorista que teve lugar em Israel a semana passada”, aludindo a um atentado suicida palestiniano a 12 de Julho, em Netanya. As acusações foram mais longe e falou-se mesmo em omissão “deliberada” dos mesmos, o que estaria em contradição com a anunciada intenção de Bento XVI de dialogar com o povo judeu.
Neste caso, é importante começar pelo fim, visto que, não obstante os esclarecimentos a nível diplomático e não só, da parte da Santa Sé não têm sido suficientes, da parte israelita as acusações continuam a ser repetidas publicamente.
Uma fonte no Ministério israelita, precisou que, em reacção àquela "omissão", uma reunião sobre os bens da Igreja na Terra Santa foi anulada. Após a convocação do Núncio Apostólico em Jerusalém à sede do Ministério, a reacção do Vaticano, pela voz de Joaquín Navarro-Valls, foi a de acusar o executivo de Sharon de procurar um “pretexto” para distorcer as afirmações do Papa.
Com estes dados é possível concluir, como têm feito observadores e agencias internacionais, que a intenção por detrás deste incidente diplomático é a necessidade de esconder a intenção da parte israelita em abandonar as negociações com a Santa Sé, como acabou por acontecer.
Para quem acompanha este processo há alguns anos, não surpreende que uma reunião entre as duas partes seja anulada em cima da hora e sem aviso prévio. Não foi esta a primeira vez que os representantes da Santa Sé encontraram as portas israelitas fechadas.
Estas negociações são exigidas pelo Acordo Fundamental entre Israel e a Santa Sé, assinado em 1994, uma espécie de “Carta Magna” que regula as relações entre o Estado hebraico e a Igreja Católica. O objectivo, nestes momentos, seria o de encontrar uma “acordo financeiro”.
O atraso nas negociações sobre a parte financeira do acordo de 1994 tem sido uma fonte de tensões entre o Vaticano e Israel. O que está em questão, com este acordo, é a continuidade e o desenvolvimento das comunidades cristãs na Terra Santa, mormente a isenção fiscal para as congregações e instituições religiosas.
Outro assunto delicado prende-se com a possibilidade de acesso da Igreja aos tribunais. A lei actual, que remonta a 1920 – quando a Palestina estava sob domínio britânico -, estipula que os tribunais se devem abster de julgar questões religiosas, o que impede a Igreja Católica de recorrer aos mesmos para fazer valer os seus direitos de propriedade.
Não menos grave é a questão do “Muro de Segurança” erguido por Israel na Cisjordânia, que segundo o Vaticano é uma “violação permanente do Acordo Fundamental” por ter expropriado ou dividido propriedades das Congregações Religiosas. Mas vejamos os factos:
As negociações começaram a 11 de Março de 1999, de forma oficial, mas nos últimos anos Israel tem-se mostrado relutante em receber a delegação da Santa Sé e dialogar sobre os termos do acordo.
A 28 de Agosto de 2003, a delegação israelita abandonou em bloco a mesa de negociações e apenas regressou um ano depois (6 de Julho de 2004), após pressão do governo dos EUA.
A ronda negocial prevista para 15 de Dezembro de 2004 foi adiada por causa da demissão de um ministro e só teve lugar em Fevereiro deste ano. Para 19 de Julho passado estava marcado um outro encontro, adiado pela parte israelita para ontem, 25 de Julho. A intervenção dominical do Papa foi, desta vez, o motivo do cancelamento das negociações.
Várias personalidades do Vaticano têm criticado abertamente as contínuas falhas de Israel neste processo, acusando o governo israelita de não cumprir os acordos com a Santa Sé sobre "questões vitais" para a Igreja Católica e para a comunidade cristã na Terra Santa.
De facto, nem o Acordo Fundamental de 1993 nem o Acordo sobre a personalidade jurídica de 1997 têm ainda força de lei. No ano passado, o governo informou oficialmente o supremo tribunal israelita que não se considerava vinculado ao Acordo Fundamental, posição que ainda não mudou.







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