Bispos portugueses dão orientações para catequese actual,com uma nota pastoral intitulada
"Para que acreditem e tenham a vida"
Durante séculos, num contexto de cristandade, “a comunicação da fé passava quase espontaneamente
de pais para filhos. O cristianismo fazia parte do património moral e cultural que
se recebia da família e do ambiente. Hoje, porém, a transmissão da fé encontra dificuldades
e levanta questões. Parece verificar-se menos abertura à fé tanto da parte das crianças
e adolescentes como dos jovens e adultos” – reconhece a Nota da Conferência Episcopal
Portuguesa (CEP) intitulada «Para que acreditem e tenham a vida» que oferece orientações
para a catequese actual. Este documento da CEP, tornado público nesta terça feira
mas aprovado na última Assembleia Plenária (23 de Junho), realça também que as dificuldades
crescentes “na adesão ao Evangelho estão certamente relacionadas com as profundas
transformações sócio- culturais que caracterizam um mundo novo. O modelo tradicional
da comunicação da fé foi posto em causa no seio de uma sociedade pluralista, pluricultural,
plurireligiosa e secularizada”. E acrescenta: “também o racionalismo, a mentalidade
científica e tecnológica produzem uma erosão do facto religioso. Estamos diante de
uma mudança profunda, em alguns aspectos inédita em relação ao passado, que exige
ser reconhecida e interpretada com urgência e lucidez”.
Perante estes factos, as «Orientações para a catequese actual» sublinham que à medida
que a Igreja toma consciência da descristianização do ambiente social procura “responder
a esta situação renovando a sua acção pastoral numa perspectiva de evangelização.
Face ao alastrar da indiferença religiosa e à paganização da cultura e da vida, não
basta manter as tradições e os hábitos cristãos e responder ao pedido de ritos religiosos”.
Torna-se necessário despertar a fé no “coração das pessoas, converter os baptizados
que não conhecem ou não praticam o cristianismo, levar o evangelho aos afastados.
É preciso começar a evangelizar pelo princípio, pôr em prática uma nova evangelização”
– alerta.
A catequese é um momento “estruturante da evangelização”. Precisa, portanto, de ter
presentes as características “da evangelização no mundo actual e situar-se neste processo
com a sua identidade própria e o seu contributo específico”. Para se tornarem evangelizadoras,
as acções da Igreja devem ser realizadas “de uma forma renovada, em resposta à situação
religiosa da nossa cultura. È necessário encontrar caminhos novos que levem ao encontro
das pessoas afastadas, ouvir as suas questões e iluminá-las com o evangelho”. Nesse
sentido a catequese, no contexto da nova evangelização, deve revestir algumas características:
“adoptar um caracter missionário procurando assegurar a adesão à fé. Para isso precisa
de ir ao encontro da vida real dos catequizandos e de ter em conta as suas questões
e experiências de modo a responder-lhes”; “Centrar-se no kerigma, ou seja, na pessoa
de Jesus Cristo Ressuscitado e no Seu mistério de salvação. Jesus Cristo deve ser
apresentado como Boa Nova, fonte de esperança e de sentido para a vida humana e para
as questões das pessoas e da sociedade” e “Convidar constantemente a uma atitude de
conversão ao Senhor em ordem ao crescimento na santidade pessoal e ao compromisso
com o testemunho do Evangelho no mundo” – revela o Nota.
Dividida em 7 pontos, o documento sobre as orientações para a catequese actual sublinha
que durante muito tempo consideraram-se as crianças como “os destinatários privilegiados
de catequese. Hoje esta actividade pastoral deve dirigir-se a todas as idades, pois
todas as idades precisam de ser evangelizadas”. Por outro lado, a situação cultural
e religiosa da Europa exige a “passagem de uma fé apoiada na tradição social a uma
fé mais pessoal e adulta, esclarecida e convicta”. Só assim, os cristãos poderão “confrontar-se,
criticamente, com a cultura actual e influir, eficazmente, nos vários sectores da
vida social: cultura, economia e política” – menciona. Em relação ao papel desempenhado
pelos catecismos, a nota veicula que estes são instrumentos para fazer catequese.
“Desempenham uma função importante mas não são suficientes. Na verdade, a transmissão
da fé assenta em vários outros elementos como o testemunho da Igreja, o exemplo de
vida cristã da família e da comunidade local, o percurso pessoal de fé, a comunicação
entre o catequista e catequizando, etc. Os catecismos são textos escritos de apoio
que precisam de vida. É a comunidade cristã e o catequista quem dá vida ao catecismo”.