2005-07-12 12:00:06

Srebrenica :10 anos do massacre, oportunidade para reconciliação


Presidente da Sérvia, Boris Tadic, inclinou-se ontem perante os restos mortais de 610 vítimas dos fuzilamentos de Srebrenica, no momento em que os corpos eram sepultados, perto desta cidade da Bósnia-Herzegovina. O gesto representou o momento mais alto das cerimónias que marcaram o décimo aniversário do massacre.
O episódio de Julho de 1995 é um dos mais sombrios da História recente da Europa, envolvendo a morte sumária de 8 mil homens e rapazes muçulmanos bósnios, às mãos de membros de milícias sérvias bósnias cujos líderes máximos nunca foram julgados. Na cerimónia de ontem, que pretendia lembrar a tragédia, Tadic disse ter esperança de que os acusados de responsabilidade pelo massacre, Radovan Karadzic e Radko Mladic, sejam detidos em breve.
Srebrenica evoca um dos maiores fracassos recentes da comunidade internacional, é hoje um dos exemplos da infame expressão "limpeza étnica", o último dos massacres europeus. Mas ontem, a evocação do décimo aniversário desta barbaridade foi também uma oportunidade para a reconciliação.
O massacre ocorreu no ponto mais violento das guerras da ex-Jugoslávia, no conflito da Bósnia, que começara três anos antes. Transformada em enclave muçulmano, a cidade estava repleta, incluindo muitos refugiados que tinham fugido das limpezas étnicas.
Srebrenica foi então cercada pelas milícias dos sérvios bósnios e tomada em poucos dias, sem qualquer oposição significativa do contingente das Nações Unidas que deveria ter protegido o local. Fracassaram todas as tentativas militares de obrigar os sérvios bósnios a retirar, pois os milicianos ameaçavam matar os capacetes azuis que detinham como reféns.
Com a queda da cidade, a população foi reunida e separados os indivíduos do sexo masculino entre os 14 e os 75 anos. O que se seguiu foi uma impiedosa marcha da morte para 8 mil muçulmanos, escondida durante semanas pela comunidade internacional.
Srebrenica foi o fracasso da OTAN, do Ocidente, da missão de paz e da ONU. Foi uma tragédia que jamais deverá acontecer", disse o ex-enviado dos EUA aos Balcãs e mediador dos acordos de Dayton, que acabaram com a guerra civil da Bósnia, Richard Holbrooke, num acto de contrição que se estendeu ao secretário-geral da ONU. Kofi Annan reiterou que Srebrenica marcará a ONU para sempre, por ser uma das suas zonas de segurança. Nela, os 400 soldados holandeses, timidamente armados, que protegiam os muçulmanos de Srebrenica, foram varridos pelos sérvio-bósnios, enquanto a ONU rejeitava os apelos da OTAN para proceder a bombardeamentos aéreos visando travar o seu avanço.
"As vítimas confiaram na protecção internacional. Mas nós decepcionámo-los", concedeu o responsável pela política externa da União Europeia, Javier Solana. " Srebrenica foi um fracasso colossal, colectivo e vergonhoso", concluiu, em mensagem lida nas cerimónias que contaram com a presença, de grande peso simbólico, do chefe de Estado sérvio, Boris Tadic, o primeiro presidente sérvio presente num acto daquela natureza, e que pretendeu demonstrar que o seu país não aprova o massacre. Com ele estiveram três televisões sérvias, que transmitiram as exéquias em directo.
Com a cerimónia de ontem, 2000 vítimas de Srebrenica terão sido transferidas para o cemitério de Potocari; mas há mais 7000 sacos com restos mortais que aguardam pela análise ao DNA, a que se juntam cadáveres que ainda não exumados de cerca de 20 valas comuns.







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