2005-07-12 12:13:59

Religião e terrorismo, culpados e inocentes


O terrorismo não é nunca em nome de Deus. Esta é a grande lição que brota dos atentados do 7 de Julho, em Londres: o horror, inevitável perante as imagens de destruição, e a condenação decidida e inequívoca de todos os líderes religiosos e da sociedade civil deixou claro que o terrorismo não tem desculpas, é sempre um crime contra a humanidade.
O Arcebispo de Cantuária, Rowan Williams, apelou ontem para que se resista à "tentação" de fazer dos vizinhos muçulmanos os culpados pelos atentados da passada quinta-feira.
Após o 11 de Setembro de 2001, a ameaça nunca deixou de pairar sobre as grandes capitais do mundo, mas a grande vitória foi não se ter dado lugar ao medo, afastando para bem longe qualquer possibilidade de legitimação dos actos terroristas. Logo na primeira mensagem que o Papa enviou ao povo britânico, Bento XVI condenava os “actos bárbaros contra a humanidade” que mataram dezenas de pessoas e causaram centenas de feridos.
Como líder religioso de mais de mil milhões de pessoas e referência espiritual para muitos outros, Bento XVI sabe que é importante não transformar o terrorismo numa batalha entre civilizações, frisando que nenhuma Religião promove actos “contra a vida que Deus criou”.
O Papa pediu aos fiéis que rezem pelas vítimas dos atentados na capital britânica e pelas suas famílias. Bento XVI convidou também os presentes a rezar pelos autores do atentado, para que “Deus toque os seus corações”. O Conselho das Conferências Episcopais da Europa (CCEE) reforça esta ideia na sua mensagem de condolências, na qual pede que não haja “sede de vingança” na resposta aos atentados.
Tal como acontecera com os atentados em Nova Iorque ou Madrid, a Santa Sé apressou-se a esconjurar qualquer possível hipótese de “choque de civilizações”, pela boca do Cardeal Angelo Sodano, Secretário de Estado do Vaticano.
“Em nome do Pai, que está nos céus, temos de acabar com estas guerras de civilizações e começar uma nova era para a humanidade. Somos todos irmãos no nome do mesmo Pai e este ódio deve acabar”, afirmou o Cardeal Sodano em entrevista à televisão pública italiana.
Os líderes de todas as grandes religiões presentes na Grã-Bretanha condenaram, de forma unânime, os atentados de Londres, considerando que a Religião não pode ser justificação para actos terroristas. Todos recordaram que as Escrituras e as tradições das comunidades islâmicas e cristãs repudiam o uso de tal violência, repudiando qualquer tentativa de associar o nome da Religião a actos tão violentos, levados a cabo por minorias que, falsamente, declaram representar uma fé.
É chocante, de facto, que entre as fontes de “legitimação” do novo terrorismo, em particular o suicida, esteja a “blasfémia” de uma referência religiosa. Ao lado deste esforço para que não se encontrem culpados fáceis, é necessário um esforço maior da cultura islâmica, na sua grande variedade e riqueza, para eliminar qualquer possibilidade, mesmo longínqua, de equívoco.
O terrorismo, de facto, não pode ser nunca um acto de Religião.
( ecclesia )







All the contents on this site are copyrighted ©.