2005-07-07 15:41:15

A vivência da Eucaristia marcará o Sinodo dos Bispos de outubro proximo: apresentado no Vaticano o "instrumentum laboris"(o instrumento de trabalho)


A Santa Sé lançou hoje um forte apelo à unidade dentro da Igreja Católica com a publicação do Instrumento de trabalho do próximo Sínodo dos Bispos, que se realizará em Outubro próximo. A necessidade de seguir normas e posições comuns na celebração e na vivência prática da Eucaristia é pano de fundo desse apelo.
O documento, intitulado “A Eucaristia: Fonte e Cume da vida e da missão da Igreja” foi elaborado após uma consulta a cerca de 4.500 Bispos de todo o mundo. No mesmo sublinha-se a importância do “Mistério Eucarístico” para a Igreja, advertindo-se contra o que se consideram serem práticas que atentam “contra o sentido do sagrado”, como o sincretismo ou a inter-comunhão entre os cristãos.
A Santa Sé manifesta-se preocupada com a quebra na prática dominical ou o aumento de católicos por cada sacerdote no mesmo período 1978-2003, considerando que estes dados são particularmente relevantes “nos países onde o processo de secularização é importante” e lamentando que o Domingo “se tenha transformado também num dia de trabalho”. A contrabalançar a estes dados está, por outro lado, o aumento do número de baptismos de adultos.
O texto insiste na unidade entre “o ensinamento da Igreja e a vida moral”, seja na esfera pessoal, seja nos campos culturais e da vida social. “Na liturgia o homem não olha para si, mas para Deus; não é o nosso louvor, mas a sua acção que faz a Eucaristia”, precisa o Instrumentum Laboris.
Nesse sentido, pede-se aos católicos que dêem “mais relevo à necessidade de conversão pessoa” e à reflexão sobre “a moralidade da sua vida”, para não receberem a comunhão negando os ensinamentos da Igreja. O documento critica directamente os que “apoiam publicamente escolhas imorais como o aborto” ou outros actos graves contra a vida, a justiça e a paz.
Num momento em que o mundo se encontra em suspenso por causas dos atentados terroristas na cidade de Londres, o texto sublinhava que os Bispos se reúnem “num contexto internacional marcado por actos de violência, terrorismo e guerra”, bem como pelos dramas da Sida e da fome. “Estas dramáticas realidades não podem estar ausentes da reflexão”, refere o documento base do Sínodo.
No Instrumento de trabalho é dado um grande destaque à preocupação ecuménica da Igreja, manifestado por várias vezes pelos dois Papas que convocaram esta reunião, João Paulo II e Bento XVI, mas recorda-se que não é possível a celebração comum da Eucaristia entre católicos e não-católicos enquanto “a unidade da fé não for realizada”. Só em certas condições é permitida aos católicos nas Igrejas Orientais, às quais é reconhecida a validade do sacramento da Eucaristia.
“A Eucaristia representa a última meta do compromisso ecuménico e, nesse sentido, não pode ser um instrumento de unificação. Só à luz da unidade, que a Eucaristia pressupõe e confirma, se pode compreender o sentido da inter-comunhão”, aponta a Santa Sé.

Consulta a toda a Igreja
Os Padres da X Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, na conclusão dos seus trabalhos em Outubro de 2001, foram interpelados sobre o tema da assembleia seguinte e, entre outros, sugeriram o da Eucaristia. Foi precisamente esse o tema que o Papa escolheu e mandou que fosse submetido à meditação colegial dos Bispos reunidos na XI Assembleia Geral Ordinária
O Conselho da secretaria geral dedicou ao tema algumas sessões de trabalho, que, com a ajuda de especialistas, levaram a um texto dos “Lineamenta”, o primeiro passo da consulta universal, que dará a possibilidade a todas as Igrejas particulares, espalhadas pelo mundo, de entrar no processo sinodal com a reflexão, a oração e as sugestões mais oportunas, por forma a se poder preparar o Instrumento de trabalho, que constituirá a ordem do dia da Assembleia sinodal.
O questionário procurou saber, junto de cada diocese, qual a frequência na participação da Missa, qual a ideia dominante que os sacerdotes e os fiéis das comunidades têm da Eucaristia, quais os aspectos negativos (abusos, ambiguidades) que se podem constatar no culto e se há cumprimento das normas litúrgicas, entre outras.
O Sínodo discutirá ainda qual a extensão das celebrações da Liturgia da Palavra com a distribuição da Eucaristia, muitas vezes guiadas por um leigo ou ministro extraordinário, nas paróquias sem sacerdote.
No questionário enviado aos Bispos é lembrado que “um católico não pode receber a Eucaristia nas comunidades que não possuem sacramento da Ordem” e chama-se a atenção para as normas da chamada inter-comunhão, “de modo que os fiéis não sejam levados a confusões e equívocos, especialmente por ocasião de assembleias ecuménicas e inter-religiosas”.
O último documento sobre os abusos litúrgicos, da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, intitulado “Redemptionis Sacramentum” (O Sacramento da Redenção), critica duramente critica o excesso de protagonismo dos leigos na celebração eucarística e a substituição da Missa por celebrações ecuménicas. O debate sobre os abusos litúrgicos deverá ser abordado no Sínodo dos Bispos de 2005, no que constituiria a terceira parte de um processo iniciado por João Paulo II com a publicação da encíclica “Ecclesia de Eucharistia” e continuado com esta Instrução da Santa Sé.







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