2005-06-08 15:12:49

Bispo de São Tomé e Principe pede solução para a crise politica no país


D. Abílio Ribas, Bispo de São Tomé e Príncipe, critica o que considera ser um “diálogo de surdos” entre o Governo e as forças da oposição no país, defendendo mudanças na constituição para solucionar a crise política que afecta a antiga colónia portuguesa. “A Constituição foi feita para benefício do povo. Havendo soluções melhores, porque não mudá-la, ao menos ad experimentum ?”, interroga-se o prelado.
O partido maioritário de São Tomé e Príncipe indicou o nome de Maria do Carmo Silveira, governadora do Banco Central, para chefe do governo, no seguimento da demissão do anterior primeiro-ministro, Damião Vaz de Almeida.
Depois de uma greve geral da função pública e de divergências no âmbito de um processo de adjudicação de blocos de petróleo numa zona de exploração comum com a Nigéria, D. Abílio Ribas considera que esta “foi uma semana de ruas feitas lixeira, de hospitais fechados a proibir doenças (!), de tribunais a mandar esperar, de repartições, já com montanhas de atrasos, a dizer para vir depois, de Sindicatos a dizer que o Governo pode mas não quer e o Governo a dizer que quer mas não pode”.
Em funções desde meados de Setembro de 2004, o governo de Damião Vaz de Almeida surgiu na base de um pacto parlamentar entre o MLSTP-PSD e a Acção Democrática Independente, ADI.
Perante a crise política, o Bispo de São Tomé e Princípe assegura que “não seria difícil se o acordo se conseguisse entre partidos”.
“Estes, por amor à poupança, renunciariam a novas eleições legislativas e, com o Presidente da República, incumbiriam os diversos sindicatos de se consertarem e de formar Governo. Governo completo, com todos os ministérios a demonstrarem então a mentira do Governo anterior. A demonstrarem que não só sustentariam todas as estruturas da Nação como ainda sobraria o suficiente para pagar USD 100,00 como salário mínimo aos trabalhadores. Eis como ninguém perderia e todos ganhariam”, escreve.
Mais uma vez sem Governo
Comentários de D. Abílio Ribas
Damião Vaz de Almeida acaba de demitir-se. Mais uma vez, portanto, está o País sem Governo. Cruzam-se as acusações justificativas.
Face à greve dos trabalhadores da função pública, o Presidente acusa o Governo de não actuar com a cabeça e o Governo acusa o Presidente de não apoiar a sua reflexão e esforço e, ainda por cima, de fazer discursos populistas irreflectidos.
Uma coisa é certa: se estávamos mal, pior ficámos. A pobreza generalizada e a instabilidade criada, desmotiva os Partidos de assumir o Governo e cá estamos nós forçados a novas eleições legislativas. Quer dizer, a mais despesas que mais agravarão o fosso financeiro em que vivemos.
E para quê? Para nada. Para nada porque o problema não está nas pessoas mas na grandeza e quantidade de problemas para os quais não há solução à vista. Face a tão alto descalabro económico-social, qualquer Governo que houvesse cairia também. Sendo assim, como estou convicto que é, de que valem novas eleições e novas pessoas no Governo? Que mais poderão fazer que não tenha sido feito? Novo Governo para nova queda? De que vale?
Ponhamos o dedo na ferida e reconheçamos que a culpa do que acontece está em todos os cidadãos. Não se trabalha. Vivemos de mão estendida para o exterior e do exterior vem cada vez menos. E com razão. Com trinta anos de independência já temos idade bastante para sermos capazes de nos sustentar. E sê-lo-íamos se arregaçássemos as mangas e nos deitássemos ao trabalho. Se cada um fizesse da Nação a sua casa e dos seus ocupantes a sua família. Se cada um se convencesse que tudo depende de si; que o esforço de cada um é indispensável ao conjunto; se cada um se juntasse aos demais e puxassem todos no mesmo sentido para trazer a piroga para a praia. Só juntos venceremos.
Enquanto tudo esperarmos dos Dirigentes Políticos e cada um não os ajudar a empurrar a piroga para porto seguro, não teremos senão naufrágios sobre naufrágios.
Esta queda de Governo vem na sequência de uma greve generalizada dos trabalhadores da função pública. Ganham pouco, dizem eles e com razão. Ganham pouco e a carestia de vida não se compadece com baixos salários. Porém, uma coisa são as necessidades e outra coisa as possibilidades. Por isso, duas forças se digladiaram durante estes últimos dias. Uma reclamando um mínimo que, sem ser demais, é muito alto para o País; outra, propondo um máximo possível que continua a ser pouco.
Quem tem razão? Têm razão as duas partes. Porém, na situação actual, seja ela consequência do que for, mesmo que seja consequência de má governação como acusam os sindicatos, o certo é que ir para além dos limites máximos propostos pelo Governo é atirar com a barca para o precipício onde todos pereceremos irremediavelmente. Por isso pergunto: não valerá mais continuar a viver, embora na pobreza, do que acabarmos com tudo em suicídio colectivo?

Remédio para o país
Em S. Tomé acabou a greve dos trabalhadores da função pública. Resultado? Nulo. Ninguém ganhou e todos perdemos. Foi uma semana de ruas feitas lixeira, de hospitais serrados a proibir doenças (!), de tribunais a mandar esperar, de repartições, já com montanhas de atrasos, a dizer para vir depois, de Sindicato a dizer que o Governo pode mas não quer e o Governo a dizer que quer mas não pode. Em diálogo de surdos que levou o mais fraco a desistir. Caiu o Governo.
E agora, que remédio? Não seria difícil se o acordo que aqui falhou se conseguisse entre partidos. Estes, por amor à poupança, renunciariam a novas eleições legislativas e, com o Presidente da República, incumbiriam os diversos sindicatos de se consertarem e de formar Governo. Governo completo, com todos os ministérios a demonstrarem então a mentira do Governo anterior. A demonstrarem que não só sustentariam todas as estruturas da Nação como ainda sobraria o suficiente para pagar USD 100,00 como salário mínimo aos trabalhadores. Eis como ninguém perderia e todos ganharíam. Tão fácil!!!
Vai isto contra a Constituição? Sem dúvida. Porém, a Constituição foi feita para benefício do povo. Havendo soluções melhores, porque não mudá-la, ao menos ad experimentum?
Eis nova reflexão a que convido quem de direito.
D. Abílio Ribas, Bispo de São Tomé e Príncipe
( Ecclesia )







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