Ex primeiro ministro português Antonio Guterres, novo Alto Comissário para os Refugiados
O antigo primeiro ministro português António Guterres é o novo Alto Comissário das
Nações Unidas para os Refugiados (
ACNUR
).O ex-primeiro-ministro português foi escolhido de entre uma lista que integrava
o francês Bernard Kouchner, antigo ministro da Saúde e ex-representante especial da
ONU no Kosovo, o australiano Gareth Evans, presidente do International Crisis Group,
em Bruxelas, e o tunisino Kamel Morjane, Alto-Comissário adjunto para os refugiados.
Uma noticia acolhida em Portugal com bastante satisfação, como é evidente, não só
por se tratar da escolha de um português, mas também por ser uma pessoa com bastante
sensibilidade social e com provas dadas neste domínio. De resto também com grande
experiência politica a que não é alheio o facto de ter sido primeiro ministro em Portugal.
O Engenheiro António Guterres declarou estar muito honrado e sensibilizado com esta
nomeação.
O ACNUR tem a sua sede em Genebra.
Criado a 14 de Dezembro de 1950, este alto-comissariado tornou-se uma das mais influentes
agências que funcionam no âmbito da ONU. Dispõe de mais de cinco mil funcionários
que prestam assistência a cerca de 17 milhões de pessoas em 116 países. Dispõe também
de um orçamento astronómico quase mil milhões de dólares.
O ACNUR marcou presença em todos os conflitos subsequentes à II Guerra Mundial, herdando
as competências da Organização Internacional de Refugiados. A sua primeira acção de
relevo aconteceu em 1956, após a abortada sublevação húngara contra a ditadura pró-soviética
que levou 200 mil pessoas a fugir do país. Nas cinco décadas seguintes, foi acentuando
a sua actividade nos mais diversos quadrantes - da Índia ao Camboja, de Chipre ao
Afeganistão, passando por Angola e Moçambique, onde sangrentas guerras civis entre
as décadas de 70 e de 90 provocaram o êxodo maciço de populações.Em termos de desafios,
numa altura em que nos três primeiros meses do ano se registou uma descida de 13%
nos pedidos de asilo face ao último trimestre de 2004, o regresso dos refugiados a
casa terá de ser a prioridade do novo alto-comissário das Nações Unidas.
A grande aposta da ONU é o sucesso das negociações de paz no Sudão. Se tal acontecer
ainda este ano, Guterres terá pela frente uma tarefa gigantesca assegurar o retorno
de mais de 300 mil sudaneses que, neste momento, vivem no Uganda, Chade ou Etiópia,
além de três milhões de deslocados no interior do país, o maior de África
Aliás, basta olhar para as estatísticas do ACNUR para perceber que o continente africano
e a Ásia Central são as zonas do planeta que terão obrigatoriamente de absorver grande
parte da atenção do novo alto-comissário. O número de refugiados na Europa aproxima-se,
no entanto, da população refugiada em África. Mas, enquanto no primeiro caso os refugiados
são oriundos de outros continentes, no segundo são resultado de conflitos dentro do
espaço africano e que resultaram na fuga de milhões para países vizinhos.
O Togo é um bom exemplo que ainda não consta nas estatísticas da ONU. Uma média de
100 togoleses saem todos os dias do país rumo ao Benim e ao Gana desde as eleições
presidenciais de 24 de Abril mais de 30 mil pessoas vivem neste momento em acampamentos
improvisados dependentes da assistência das Nações Unidas.
Na Europa de Leste, os quase 300 mil bósnios e croatas refugiados na Sérvia, após
a guerra nos Balcãs, constituem outro dos desafios de António Guterres. Mas os azeris
que fugiram para Arménia representam uma preocupação ainda maior dos 240 mil refugiados,
190 mil não podem sequer contar com o apoio das Nações Unidas.