Declaração conjunta põe termo ao braço de ferro entre governo timorense e igreja
católica local
O Governo e a Igreja Católica em Timor-Leste acordaram este sábado a criação de um
Grupo de Trabalho Permanente para "precaver problemas futuros", no âmbito da manifestação
anti-governamental promovida pela Igreja, a qual se prolongou por 19 dias.
O anúncio da criação deste organismo, a constituir dentro de um mês, consta da Declaração
Conjunta assinada a 7 de Maio na Presidência da República pelo primeiro-ministro e
pelos dois Bispos timorenses.
Composta por oito pontos, a Declaração Conjunta dedica os primeiros cinco à importância
dos valores religiosos e à garantia da continuidade da manutenção da disciplina de
Religião e Moral como cadeira regular e curricular, cuja frequência será decidida
pelos encarregados de educação no acto de matrícula.
O sexto ponto sustenta que o projecto do Código Penal "deve tratar da questão do aborto
em todas as suas vertentes", e que a lei "deve igualmente definir a prática da prostituição
voluntária como um crime".
De acordo com o documento assinado pelo chefe do governo, Mari Alkatiri, e pelos bispos
D. Alberto Ricardo da Silva, de Díli, e D. Basílio do Nascimento, de Baucau, o aborto
apenas não será considerado crime quando "for absolutamente necessário evitar a morte
da mãe".
O sétimo ponto contempla a garantia "que não haverá ameaça ou retaliação das autoridades
contra os manifestantes, quando voltarem às suas residências", garantindo a sua segurança
física e "um ambiente social livre de intimidações".
O último ponto, relativo à constituição do referido Grupo de Trabalho Permanente,
estipula que este órgão terá como objectivo acompanhar a concretização dos princípios
estabelecidos no preâmbulo do documento e fazer as recomendações que entender relevantes
em todas as áreas da sua intervenção, "no sentido de dar melhor apreciação dos problemas
existentes e precaver problemas futuros".
Na curta conferência de imprensa que se seguiu, o bispo de Baucau lamentou alguns
excessos verbais cometidos ao longo dos 19 dias da manifestação, mas que ressalvou
serem "expressão da democracia". Durante esse período registaram-se ligeiros incidentes,
havendo a registar dois polícias feridos devido ao arremesso de pedras pelos manifestantes.
No Domingo, os dois Bispos celebraram uma missa, em que foi lida, em português e em
tétum, a Declaração Conjunta. Após a celebração, iniciou-se o processo de regresso
a casa, dos manifestantes.