O novo escudo do Papa Bento XVI, conserva alguns elementos originais do escudo episcopal
do Cardeal Joseph Ratzinger e descarta a tradicional tiara pontifícia, substituindo-a
por uma mitra.
Três símbolos ligados à história e lendas religiosas da região da Baviera, sul da
Alemanha, ilustram o brasão escolhido por Bento XVI. O brasão encerra todos os elementos
que caracterizavam o seu brasão episcopal como Arcebispo de Munique-Freising e, depois,
como Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. A diferença agora é a presença
da mitra e do pálio pontifício, além das chaves de São Pedro.
No brasão tripartido reconhece-se a figura do "mouro de Freising". A característica
cabeça do mouro coroada de perfil já aparecia no brasão da antiga diocese-principado
de Freising em 1316, no tempo de Bispo Corrado III, permanecendo quase imutável até
aos inícios do século XIX.
Desde então, todos os arcebispos de Munique-Freising (a Arquidiocese foi criada em
1817) ligam os seus brasões à chamada "Caput Aethiopum" (a cabeça do etíope, que pode
ser vista no actual brasão do Arcebispo local, Cardeal Friedrich Wetter).
Um elemento curioso do novo brasão pontifício é a presença da figura de um urso com
o alforje, o chamado "Urso de Corbiniano". A figura refere-se à lenda do Bispo Corbiano,
que anunciou o Evangelho no século VIII, na antiga Baviera, e é venerado como pai
espiritual e padroeiro da Arquidiocese. Durante uma viagem a Roma, o urso devorou
seu cavalo. O santo então, ordenou ao urso que levasse sua bagagem à Cidade Eterna.
Chegando a Roma, o santo libertou o urso, que voltou a viver nos bosques da Baviera.
O significado da lenda é claro: o Cristianismo amansou e domesticou o paganismo selvagem
e introduziu na Baviera os fundamentos de uma grande cultura. O "Urso de Corbiniano"
simboliza também o peso do ministério. No brasão de Bento XVI essa figura encontra
agora uma nova Pátria também em Roma.
O terceiro elemento presente no brasão - a concha - tem diversos significados. Antes
de tudo, refere-se a uma famosa lenda envolvendo Santo Agostinho. Enquanto passeava
na praia, meditando sobre o impenetrável mistério da Trindade de Deus, Santo Agostinho
encontrou uma criança que, com uma concha, derramava a água do mar num pequeno buraco
na areia. Quando Santo Agostinho perguntou à criança o que ele estava a fazer o menino
respondeu: "Estou a derramar o mar neste buraco."
Assim, a concha é o símbolo da imersão no mar da divindade. Ao mesmo tempo, liga-se
à personalidade do Cardeal Joseph Ratzinger como teólogo, e o início de sua carreira
científica. Em 1953, ele doutorou-se em teologia com a tese: "O povo e a casa de Deus
no ensinamento de Agostinho sobre a Igreja".
A "Concha do peregrino" também está simbolicamente ligada a um conceito central do
Concilio Vaticano II: o Povo de Deus peregrino, do qual Papa Ratzinger se reconhece
pastor.
Como Arcebispo, ele tinha inserido esse símbolo no seu brasão, também como "Concha
de São Januário", recordando uma etapa da vida do Papa e a sua actividade como professor
de teologia.
Sobre o brasão aparece pela primeira vez a mitra papal e não a tiara, como nos precedentes
brasões pontifícios. E sobre a mitra, o pálio do metropolita.