Igreja timorense exige demissão do Primeiro Ministro
Os bispos de Timor-Leste exigiram nesta segunda feira a "imediata remoção" do primeiro-ministro
Mari Alkatiri e a indigitação de um novo chefe de governo.
Em carta enviada a Francisco Guterres "Lu-Olo", presidente do Parlamento Nacional
e do partido maioritário FRETILIN, os dois bispos, D. Alberto Ricardo da Silva (Díli)
e D. Basílio do Nascimento (Baucau), justificam a exigência da demissão com "a actual
situação social, económica e política".
Apelando ao Comité Central da FRETILIN e aos deputados para que tomem uma posição
que leve à substituição do chefe do governo, os dois bispos salientam que "os cidadãos
deste país não se sentem identificados com o modelo de sociedade que este governo
quer impor", o qual consideram nada ter a ver com a realidade cultural, social e histórica
dos timorenses.
"O profundo sentimento deste povo anónimo, que espontaneamente e em massa, aderiu,
secundou e apoiou profundamente os protestos da Igreja Católica, leva-o a formular
um pedido ao Partido FRETILIN, com maioria parlamentar, que decida a imediata remoção
do actual primeiro-ministro e o seu governo, e indigite um novo primeiro-ministro,
que imediatamente formará governo", sublinham.
A divulgação da carta foi feita no final de um encontro que juntou ontem no Palácio
do Governo uma delegação da igreja com outra do governo, liderada pelo ministro da
Saúde, Rui Araújo.
". Este é o último episódio de uma guerra entre o poder religioso e o político que
começou em Fevereiro quando o Governo de Alkatiri decidiu tornar a religião numa disciplina
facultativa nas escolas públicas. O clero insurgiu-se contra esta decisão e organizou
uma manifestação nas ruas de Díli que entra hoje no oitavo dia consecutivo.
A Igreja, pela voz do vigário-geral de Díli, padre Apolinário Guterres, divulgou também
um comunicado em que afirma que a concentração de católicos na capital timorense "não
é só sobre religião". No documento, o clero esclarece que a "essência do problema
reside no modelo de sociedade que está a ser imposto". "O povo perdeu a confiança
neste Governo e, em consequência, o povo exige ao partido Fretilin a remoção deste
Governo", conclui o comunicado.
A Fretilin avisou, através de um comunicado, que o partido "nunca aceitará que alguém
tente tomar o poder pela força", apelando ao país para não repetir a experiência de
1975, quando a guerra civil dividiu os timorenses e abriu caminho à ocupação indonésia.
Embora uma reconciliação entre ambas as partes pareça pouco provável, o primeiro-ministro
não desistiu ainda de apelar às negociações
A crise entre o poder político e o religioso já despertou a preocupação do Governo
português. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Diogo Freitas do Amaral, garante
estar a acompanhar o processo com "todo o cuidado e apreensão".