Em Timor Leste Igreja e governo tentam pôr fim ás manifestações
Uma delegação governamental timorense, chefiada pelo primeiro-ministro Mari Alkatiri,
reúne-se na quarta-feira com o bispo de Díli, D. Alberto Ricardo da Silva, e o bispo
de Baucau, D. Basílio do Nascimento, para tentar desbloquear o impasse criado por
uma semana de protestos dos católicos contra o governo.
Os manifestantes estão contra a política do governo, designadamente o plano experimental
pedagógico que visa retirar à disciplina de Religião o actual peso curricular que
detém, passando a facultativa. Para a Igreja Católica, a preocupação central é resolver
as exigências dos manifestantes. Estas exigências passam pela demissão do primeiro-ministro
e substancial alteração da política governamental.
Antes do encontro de quarta-feira, está previsto para amanhã uma reunião entre uma
delegação da Igreja Católica de Timor-Leste com um dos dois ministros de Estado do
governo – José Ramos Horta ou Ana Pessoa.
Há cerca de uma semana que centenas de católicos manifestam-se às portas do Palácio
do Governo, um protesto que não foi autorizado pelas autoridades timorenses alegando
que o pedido de autorização entrou tarde no Comando Geral da Polícia Nacional de Timor-Leste.
Contudo, até agora não se registaram quaisquer incidentes.
O presidente da República, Xanana Gusmão, recusa pronunciar-se sobre a manifestação,
considerando que a “resolução do que está em discussão cabe ao governo”. Xanana acredita
que “os manifestantes e o governo saberão ultrapassar as arestas do desentendimento”.
Ao mesmo tempo que era confirmado, o encontro do primeiro-ministro timorense, Mari
Alkatiri, com os dois bispos do país, o ministro dos Negócios Estrangeiros, José Ramos-Horta,
exigia que o embaixador norte-americano no país, Joseph Rees, explique o envolvimento
de elementos da sua representação diplomática na manifestação anti-governamental organizada
pela hierarquia católica
"Os bispos acolhem o convite ao diálogo com o Governo e aceitaram a proposta do senhor
primeiro-ministro para um encontro no Palácio do Governo, antes da conferência de
doadores", salientou o padre Domingos Soares.
O encontro de doadores vai juntar os parceiros de desenvolvimento com o Executivo
de Díli, para a avaliação anual da economia timorense.
"Alguns agentes diplomáticos têm estado implicados, de uma forma ou de outra, no apoio
aos manifestantes. Se isso é verdade, então estão a violar a Convenção de Viena",
salientou Ramos-Horta, acrescentando que "seria impensável um embaixador timorense
em Washington, por exemplo, participar ou estar presente numa manifestação anti-guerra
do Iraque que iria contra a política do país anfitrião".
A Imprensa timorense publicou fotos do embaixador Joseph Rees no meio dos manifestantes
e viaturas com matrícula diplomática da Embaixada dos EUA foram referenciadas a acompanhar
os manifestantes que se deslocavam do interior para Díli, para participar no protesto.