2005-04-23 15:43:51

Bento XVI afirma-se pela simplicidade e manifesta-se disposto a dialogar


Antes de ser Papa, todo o mundo atribuía ao Cardeal Joseph Ratzinger uma figura fria e distante (para dizer o mínimo), pouco capaz de cativar e de abrir-se ao diálogo. Logo desde os primeiros momentos se percebeu, contudo, que as pessoas mais próximas daquele que ocupou durante 24 anos o lugar menos “simpático” da Cúria Romana apresentavam um homem simples, algo tímido, e de imensas qualidades humanas e intelectuais, para além da capacidade teológica.
Bento XVI está no imaginário colectivo como um homem de confronto, duro, mas a sua nova missão na Igreja exige uma figura conciliadora, uma Mestre e um Pai na fé que oriente mais de mil milhões de sensibilidades e necessidades diferentes.
O sorriso do Papa, nos últimos dias, tem sido uma surpresa para quem não estava habituado a vê-lo senão na seriedade de celebrações solenes ou audiências oficiais.
Desde o primeiro momento, sobre a Praça de São Pedro, passando pelos dois “banhos de multidão” nas saídas espontâneas para recolher algumas coisas da sua antiga casa, logo ali ao lado, tem-se visto uma figura simpática, mais próxima de um “avô” do que do “grande inquisidor” que tantos temem. A multidão aplaude e canta, esperando para ver em que medida será capaz Bento XVI de levar a Igreja pelos caminhos do terceiro milénio que se inicia.
O novo Papa declarou a intenção de cumprir a sua missão "com simplicidade e disponibilidade". Sabe que foi eleito para “reger e guiar” uma Igreja em mutação, marcada pelo pontificado excepcional de João Paulo II, e não o esquece: muitas têm sido as referências ao seu predecessor, que renovou profundamente o papado. A herança dos 26 anos e meio de João Paulo II à frente da Igreja e a dinâmica do II Concílio do Vaticano são presenças constantes nas primeiras intervenções, seja ao falar com os Cardeais, seja na mensagem às pessoas de todo o mundo, cristãos ou não.
A primeira intervenção abordava uma série de temas que aparecem como prioridades: colegialidade no governo da Igreja, diálogo ecuménico, promoção da paz com as outras religiões, contacto com os jovens, espiritualidade eucarística, missão. Outras duas intervenções efectuadas antes da eleição marcam, também, o início de Pontificado: na Missa pela eleição do Papa, na manhã de 18 de Abril, o Cardeal Ratzinger insurgia-se contra a “ditadura do relativismo” e pedia uma fé adulta, enraizada na relação pessoal com Cristo; na Via-Sacra de Sexta-feira Santa, no Coliseu, os textos do então Prefeito da Congregação da Doutrina da Fé apontavam o dedo à “sujidade”, “soberba” e “auto-suficiência” na Igreja.
Enquanto se aguardam posições concretas sobre matérias teológicas e disciplinares que agitam a Igreja (e o mundo), Bento XVI começa a cativar pela simplicidade que ele apresenta como marca para o seu pontificado: o Cardeal que não tinha ao seu serviço nenhum tipo de pessoal e cozinhava para si continua no quarto que lhe saiu em sorte na Casa de Santa Marta, durante o Conclave – o mais pequeno de todos.
Para o apartamento pontifício, é sabido, seguirão as suas paixões: a biblioteca pessoal e o piano.







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