Bento XVI afirma-se pela simplicidade e manifesta-se disposto a dialogar
Antes de ser Papa, todo o mundo atribuía ao Cardeal Joseph Ratzinger uma figura fria
e distante (para dizer o mínimo), pouco capaz de cativar e de abrir-se ao diálogo.
Logo desde os primeiros momentos se percebeu, contudo, que as pessoas mais próximas
daquele que ocupou durante 24 anos o lugar menos “simpático” da Cúria Romana apresentavam
um homem simples, algo tímido, e de imensas qualidades humanas e intelectuais, para
além da capacidade teológica.
Bento XVI está no imaginário colectivo como um homem de confronto, duro, mas a sua
nova missão na Igreja exige uma figura conciliadora, uma Mestre e um Pai na fé que
oriente mais de mil milhões de sensibilidades e necessidades diferentes.
O sorriso do Papa, nos últimos dias, tem sido uma surpresa para quem não estava habituado
a vê-lo senão na seriedade de celebrações solenes ou audiências oficiais.
Desde o primeiro momento, sobre a Praça de São Pedro, passando pelos dois “banhos
de multidão” nas saídas espontâneas para recolher algumas coisas da sua antiga casa,
logo ali ao lado, tem-se visto uma figura simpática, mais próxima de um “avô” do que
do “grande inquisidor” que tantos temem. A multidão aplaude e canta, esperando para
ver em que medida será capaz Bento XVI de levar a Igreja pelos caminhos do terceiro
milénio que se inicia.
O novo Papa declarou a intenção de cumprir a sua missão "com simplicidade e disponibilidade".
Sabe que foi eleito para “reger e guiar” uma Igreja em mutação, marcada pelo pontificado
excepcional de João Paulo II, e não o esquece: muitas têm sido as referências ao seu
predecessor, que renovou profundamente o papado. A herança dos 26 anos e meio de João
Paulo II à frente da Igreja e a dinâmica do II Concílio do Vaticano são presenças
constantes nas primeiras intervenções, seja ao falar com os Cardeais, seja na mensagem
às pessoas de todo o mundo, cristãos ou não.
A primeira intervenção abordava uma série de temas que aparecem como prioridades:
colegialidade no governo da Igreja, diálogo ecuménico, promoção da paz com as outras
religiões, contacto com os jovens, espiritualidade eucarística, missão. Outras duas
intervenções efectuadas antes da eleição marcam, também, o início de Pontificado:
na Missa pela eleição do Papa, na manhã de 18 de Abril, o Cardeal Ratzinger insurgia-se
contra a “ditadura do relativismo” e pedia uma fé adulta, enraizada na relação pessoal
com Cristo; na Via-Sacra de Sexta-feira Santa, no Coliseu, os textos do então Prefeito
da Congregação da Doutrina da Fé apontavam o dedo à “sujidade”, “soberba” e “auto-suficiência”
na Igreja.
Enquanto se aguardam posições concretas sobre matérias teológicas e disciplinares
que agitam a Igreja (e o mundo), Bento XVI começa a cativar pela simplicidade que
ele apresenta como marca para o seu pontificado: o Cardeal que não tinha ao seu serviço
nenhum tipo de pessoal e cozinhava para si continua no quarto que lhe saiu em sorte
na Casa de Santa Marta, durante o Conclave – o mais pequeno de todos.
Para o apartamento pontifício, é sabido, seguirão as suas paixões: a biblioteca pessoal
e o piano.