Igreja aberta ao diálogo sincero na busca do bem do homem e da sociedade:alocução
final de Bento XVI na celebração conclusiva do Conclave.
“Como Pedro, também nós renovamos a Cristo a Nossa incondicionada promessa de fidelidade.
Só a Ele entendemos servir dedicando-Nos totalmente ao serviço da sua Igreja”.
Palavras solenes e decididas do novo Papa, Bento XVI, na alocução que pronunciou,
em latim, no final da Missa de conclusão do Conclave, nesta quarta-feira de manhã,
na Capela Sixtina, com os Cardeais que o elegeram como sucessor de João Paulo II.
Evocando o episódio de Cesareia de Filipos (em que Pedro professa a sua fé em Cristo,
“Filho de Deus vivo”, e Jesus lhe assegura “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei
a minha Igreja... Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus” – o Papa agora eleito exprimiu
a consciência de poder “contar com a potência divina” para levar o “enorme peso da
responsabilidade imposta sobre os seus ombros”:
“Escolhendo-Nos como Bspo de Roma, o Senhor quis-Nos como seu Vigário, quis-Nos como
sua ‘pedra’ na qual todos se possam apoiar com segurança. A Ele pedimos com insistência
que supra à pobreza das Nossas forças humanas, para sermos Pastores fiéis e corajosos
do seu rebanho, sempre dóceis às inspirações do seu Espírito”.
Bento XVI declarou empreender este específico ministério “petrino” ao serviço da Igreja
universal “abandonando-se humildemente nas mãos da Providência de Deus” e renovando
a sua “total e confiante adesão a Cristo”.
Agradecendo aos Cardeais que o elegeram a confiança nele depositada, o novo Papa sublinhou
a unidade – “vigorosamente reafirmada pelo Concílio” – entre o Sucessor de Pedro e
os Bispos, sucessores dos Apóstolos:
“Esta comunhão colegial, embora na diversidade de funções e missões do Romano Pontífice
e dos Bispos, está ao serviço da Igreja e da unidade na fé, da qual depende em grande
medida a eficácia da acção evangelizadora no mundo contemporâneo”.
O Papa assegurou a sua intenção de prosseguir neste caminho, seguido pelos seus predecessores,
“unicamente preocupado em proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo.
Permanente, ao longo deste discurso programático do Papa agora eleito, a referência
ao seu predecessor João Paulo II, nomeadamente ao seu testemunho. “Ele deixa uma Igreja
mais corajosa, mais livre, mais jovem” – deixa. Uma Igreja que, segundo o seu ensinamento
e exemplo, olha com serenidade ao passado e não tem medo do futuro. Com o Grande Jubileu,
a Igreja entrou no novo milénio levando nas mãos o Evangelho, aplicado ao mundo actual
através de uma releitura autorizada do Concílio Vaticano II. Justamente o Papa João
Paulo II indicou o Concílio como uma ‘bússula’ de orientação no vasto oceano do terceiro
milénio. E no seu Testamento espiritual ele anotava: ‘Tenho a convicção de que ainda
por muito tempo as novas gerações poderão alimentar-se das riquezas que este Concílio
do século XX nos deixou.”
“Portanto também Nós, ao iniciar o serviço próprio do sucessor de Pedro, desejamos
declarar com decisão a firme vontade de prosseguir no empenho de aplicação do Concílio
Vaticano II, na senda dos Nossos Predecessores e em fiel continuidade com a tradição
dos dois mil anos da Igreja”.
Recordando que este pontificado tem início em pleno Ano da Eucaristia, o novo Pontífice
pediu a todos que “intensifiquem nos próximos meses o amor e a devoção a Jesus Eucaristia
exprimindo de modo corajoso e claro a fé na presença real do Senhor, sobretudo mediante
a solenidade e a correcção das celebrações”. Aos Padres de todo o mundo, Bento XVI
dirigiu uma saudação afectuosa, recordando – com palavras de João Paulo II – “a forma
eucarística” que deve muito especialmente assumir a existência sacerdotal.
Neste contexto “eucarístico”, declarou-se “disposto a fazer tudo o que estiver em
seu poder para promover a fundamental causa do ecumenismo”, não se poupando a esforços
para “reconstituir a unidade plena e visível de todos os que seguem a Cristo”. Considerando
ser este empenho ecuménico uma sua “ambição” e um “imperioso dever”, Bento XVI observou,
porém, que “não bastam as manifestações de bons sentimentos”: são “necessários gestos
concretos que entrem nos espíritos e movam as consciências, levando cada um àquela
conversão interior que é o pressuposto de todo e qualquer progresso no caminho do
ecumenismo”. “É necessário o diálogo ecuménico, e é indispensável aprofundar as motivações
históricas de opções feitas no passado. Mas o que mais urge ainda – sublinhou - é
aquela “purificação da memória” tantas vezes evocada por João Paulo II. Só ela poderá
dispor os espíritos a acolher a plena verdade de Cristo”.
Quase a concluir o discurso dirigido, em latim, aos cardeais que o elegeram sucessor
de João Paulo II, no final da celebração de encerramento do Conclave, o novo Pontífice
advertiu que “a Igreja de hoje deve reavivar em si mesma a consciência do dever de
propor de novo ao mundo a voz d’Aquele que disse ‘Eu sou a luz do mundo’.... O novo
Papa sabe que a sua tarefa é fazer resplandecer diante dos homens e das mulheres de
hoje a luz de Cristo, não a própria luz, mas a de Cristo”.
“A todos os que seguem outras religiões ou que simplesmente procuram uma resposta
às quetões fundamentais da existência e ainda a não encontraram”, Bento XVI dirigiu-se
“com simplicidade e afecto”, assegurando que “a Igreja quer continuar a tecer com
(todos) um diálogo aberto e sincero, na busca do verdadeiro bem do homem e da sociedade.”
“Invoco de Deus a unidade e a paz para a família humana e declaro a disponibilidade
de todos os católicos em cooperar a favor de um autêntico desenvolvimento social,
respeitador da dignidade de cada ser humano”.
“Não pouparei esforços e dedicação para prosseguir o prometedor diálogo empreendido
pelos meus predecessores com as diferentes civilizações, para que da compreensão recíproca
brotem as condições de um futuro melhor para todos”.
Uma palavra quase final, reservou–a o Papa aos jovens, “interlocutores privilegiados
de João Paulo II”, enviando-lhes um “afectuoso abraço” e exprimindo a esperança de
com eles se encontrar em Colónia, na Jornada Mundial da Juventude. “Caros jovens!
(disse). Continuarei a dialogar convosco, futuro e esperança da Igreja e da humanidade.
Escutarei as vossa expectativas para vos ajudar a encontrar cada vez mais profundamente
Cristo Vivo, o eternamente jovem”.