2005-04-20 12:58:08

Igreja aberta ao diálogo sincero na busca do bem do homem e da sociedade:alocução final de Bento XVI na celebração conclusiva do Conclave.


“Como Pedro, também nós renovamos a Cristo a Nossa incondicionada promessa de fidelidade. Só a Ele entendemos servir dedicando-Nos totalmente ao serviço da sua Igreja”.
Palavras solenes e decididas do novo Papa, Bento XVI, na alocução que pronunciou, em latim, no final da Missa de conclusão do Conclave, nesta quarta-feira de manhã, na Capela Sixtina, com os Cardeais que o elegeram como sucessor de João Paulo II.
Evocando o episódio de Cesareia de Filipos (em que Pedro professa a sua fé em Cristo, “Filho de Deus vivo”, e Jesus lhe assegura “Tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja... Dar-te-ei as chaves do Reino dos Céus” – o Papa agora eleito exprimiu a consciência de poder “contar com a potência divina” para levar o “enorme peso da responsabilidade imposta sobre os seus ombros”:
“Escolhendo-Nos como Bspo de Roma, o Senhor quis-Nos como seu Vigário, quis-Nos como sua ‘pedra’ na qual todos se possam apoiar com segurança. A Ele pedimos com insistência que supra à pobreza das Nossas forças humanas, para sermos Pastores fiéis e corajosos do seu rebanho, sempre dóceis às inspirações do seu Espírito”.
Bento XVI declarou empreender este específico ministério “petrino” ao serviço da Igreja universal “abandonando-se humildemente nas mãos da Providência de Deus” e renovando a sua “total e confiante adesão a Cristo”.
Agradecendo aos Cardeais que o elegeram a confiança nele depositada, o novo Papa sublinhou a unidade – “vigorosamente reafirmada pelo Concílio” – entre o Sucessor de Pedro e os Bispos, sucessores dos Apóstolos:
“Esta comunhão colegial, embora na diversidade de funções e missões do Romano Pontífice e dos Bispos, está ao serviço da Igreja e da unidade na fé, da qual depende em grande medida a eficácia da acção evangelizadora no mundo contemporâneo”.
O Papa assegurou a sua intenção de prosseguir neste caminho, seguido pelos seus predecessores, “unicamente preocupado em proclamar ao mundo inteiro a presença viva de Cristo.
Permanente, ao longo deste discurso programático do Papa agora eleito, a referência ao seu predecessor João Paulo II, nomeadamente ao seu testemunho. “Ele deixa uma Igreja mais corajosa, mais livre, mais jovem” – deixa. Uma Igreja que, segundo o seu ensinamento e exemplo, olha com serenidade ao passado e não tem medo do futuro. Com o Grande Jubileu, a Igreja entrou no novo milénio levando nas mãos o Evangelho, aplicado ao mundo actual através de uma releitura autorizada do Concílio Vaticano II. Justamente o Papa João Paulo II indicou o Concílio como uma ‘bússula’ de orientação no vasto oceano do terceiro milénio. E no seu Testamento espiritual ele anotava: ‘Tenho a convicção de que ainda por muito tempo as novas gerações poderão alimentar-se das riquezas que este Concílio do século XX nos deixou.”
“Portanto também Nós, ao iniciar o serviço próprio do sucessor de Pedro, desejamos declarar com decisão a firme vontade de prosseguir no empenho de aplicação do Concílio Vaticano II, na senda dos Nossos Predecessores e em fiel continuidade com a tradição dos dois mil anos da Igreja”.
Recordando que este pontificado tem início em pleno Ano da Eucaristia, o novo Pontífice pediu a todos que “intensifiquem nos próximos meses o amor e a devoção a Jesus Eucaristia exprimindo de modo corajoso e claro a fé na presença real do Senhor, sobretudo mediante a solenidade e a correcção das celebrações”. Aos Padres de todo o mundo, Bento XVI dirigiu uma saudação afectuosa, recordando – com palavras de João Paulo II – “a forma eucarística” que deve muito especialmente assumir a existência sacerdotal.
Neste contexto “eucarístico”, declarou-se “disposto a fazer tudo o que estiver em seu poder para promover a fundamental causa do ecumenismo”, não se poupando a esforços para “reconstituir a unidade plena e visível de todos os que seguem a Cristo”. Considerando ser este empenho ecuménico uma sua “ambição” e um “imperioso dever”, Bento XVI observou, porém, que “não bastam as manifestações de bons sentimentos”: são “necessários gestos concretos que entrem nos espíritos e movam as consciências, levando cada um àquela conversão interior que é o pressuposto de todo e qualquer progresso no caminho do ecumenismo”. “É necessário o diálogo ecuménico, e é indispensável aprofundar as motivações históricas de opções feitas no passado. Mas o que mais urge ainda – sublinhou - é aquela “purificação da memória” tantas vezes evocada por João Paulo II. Só ela poderá dispor os espíritos a acolher a plena verdade de Cristo”.
Quase a concluir o discurso dirigido, em latim, aos cardeais que o elegeram sucessor de João Paulo II, no final da celebração de encerramento do Conclave, o novo Pontífice advertiu que “a Igreja de hoje deve reavivar em si mesma a consciência do dever de propor de novo ao mundo a voz d’Aquele que disse ‘Eu sou a luz do mundo’.... O novo Papa sabe que a sua tarefa é fazer resplandecer diante dos homens e das mulheres de hoje a luz de Cristo, não a própria luz, mas a de Cristo”.
“A todos os que seguem outras religiões ou que simplesmente procuram uma resposta às quetões fundamentais da existência e ainda a não encontraram”, Bento XVI dirigiu-se “com simplicidade e afecto”, assegurando que “a Igreja quer continuar a tecer com (todos) um diálogo aberto e sincero, na busca do verdadeiro bem do homem e da sociedade.”
“Invoco de Deus a unidade e a paz para a família humana e declaro a disponibilidade de todos os católicos em cooperar a favor de um autêntico desenvolvimento social, respeitador da dignidade de cada ser humano”.
“Não pouparei esforços e dedicação para prosseguir o prometedor diálogo empreendido pelos meus predecessores com as diferentes civilizações, para que da compreensão recíproca brotem as condições de um futuro melhor para todos”.
Uma palavra quase final, reservou–a o Papa aos jovens, “interlocutores privilegiados de João Paulo II”, enviando-lhes um “afectuoso abraço” e exprimindo a esperança de com eles se encontrar em Colónia, na Jornada Mundial da Juventude. “Caros jovens! (disse). Continuarei a dialogar convosco, futuro e esperança da Igreja e da humanidade. Escutarei as vossa expectativas para vos ajudar a encontrar cada vez mais profundamente Cristo Vivo, o eternamente jovem”.







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