Cardeal Patriarca reafirme posição da Igreja contra o aborto : em questão o novo referendo
O presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), D. José Policarpo, reafirmou
hoje a posição da Igreja contra o aborto, tendo em perspectiva a realização de um
novo referendo sobre a questão, assinalando que “o respeito pela vida é o principal
fundamento da ética”.
“Qualquer lei que permita o aborto cria uma separação entre a legalidade e a moralidade,
pois o aborto voluntariamente procurado, mesmo que legal, continua a ferir a moralidade
natural e as exigências da consciência”, acusa.
No discurso de abertura da assembleia plenária da CEP, a decorrer em Fátima, D. José
Policarpo vincou que “esta não é uma questão explicitamente religiosa, pois é da ordem
do direito natural”.
“Parece estar no horizonte a realização de uma nova consulta aos portugueses, sob
a forma de referendo, sobre a alteração da Lei do aborto. É uma matéria em que a doutrina
católica é claramente conhecida de todos, quer nos seus conteúdos, quer no seu carácter
perene e imutável”, disse o Cardeal-Patriarca, assegurando que “a nossa firmeza nesta
matéria é apenas motivada pela nossa convicção de que na procriação humana existe
uma vida humana desde o primeiro momento e que interrompê-la violentamente é a expressão
mais grave do respeito que a vida humana merece e exige de nós”.
O Patriarca de Lisboa assegura que “tanto pessoalmente, como o conjunto do Episcopado,
já demos provas suficientes de abertura dialogante em muitas questões da nossa sociedade”,
respondendo assim a várias críticas dirigidas à CEP.
“Não desconhecemos o drama do aborto clandestino, embora gostássemos de o ver tipificado
através do estudo já anunciado, nem ignoramos que a defesa da vida, em todas as circunstâncias,
exige convicção, generosidade e coragem, compreensão e apoio da sociedade. Mas, na
perspectiva da Igreja, não é questão que possa resolver-se pela cedência e pela tolerância,
mas sim pela coragem partilhada”, explicou.
O Cardeal-Patriarca insistiu na ideia de que esta discussão não pretende ser “uma
luta política, mas um debate cultural e moral, a travar por todos com serenidade e
dignidade”. “No debate que antecederá o referendo é importante que todos os que defendem
o carácter inviolável da vida procurem esclarecer os outros”, recomendou.
“Esta batalha insere-se numa outra mais vasta: a da educação e da cultura, bases de
uma sociedade harmónica, capaz de enquadrar as pessoas na sua dignidade e na sua luta
pela vida. Nesta batalha a sociedade poderá sempre contar com o contributo empenhado
da Igreja, que tem na plena realização do homem o seu principal objectivo”, acrescenta.
A demonstrar que a posição da CEP não é política, D. José Policarpo frisou que “a
Hierarquia da Igreja respeita todos os governos legítimos e está disposta a colaborar,
no espírito recentemente consagrado na nova Concordata de cooperação entre a Igreja
e o Estado, para bem da construção de uma sociedade mais justa, harmónica e fraterna”.
“Saúdo a nova Assembleia da República e o Senhor Primeiro-Ministro e todos os membros
do seu Governo, na certeza de que é esse espírito de busca conjunta do bem-comum,
que continuará a presidir às relações entre a Igreja e o Estado”, apontou.