2005-03-30 16:22:11

Defender a santidade da Eucaristia foi o pedido dos bispos portugueses na Quinta Feira Santa


O dia da instituição da Sagrada Eucaristia “é o momento propício para nos interrogarmos sobre a autenticidade das nossas celebrações” – sublinhou D. Jorge Ortiga, Arcebispo de Braga, na celebração da Ceia do Senhor, na última Quinta-Feira Santa, na Sé de Braga. Pela santidade de que se reveste, “a Eucaristia exige a pureza e a perfeição daqueles que a celebram. Na Eucaristia tudo deveria ser puro e perfeito” – completa D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, na liturgia da Ceia do Senhor, que iniciou o Tríduo Pascal. Obedecer ao mandato de Cristo de «Fazei isto em memória de mim», deve “ser um encargo que nos responsabiliza. Importa «repetir» mas urge reexaminar o conteúdo das celebrações com os desafios que nos coloca” – adianta o arcebispo de Braga.
Em pleno Ano da Eucaristia, D. José Policarpo referiu na mesma celebração que a “santidade da Eucaristia continua a exigir àqueles que se preparam para a celebrar, o rito da purificação, que já não se exprime na lavagem dos pés, mas na graça do sacramento do perdão. Entre o sacramento da reconciliação e a Eucaristia há uma convergência necessária”. Se o cristão tem na consciência “o peso dum pecado grave, então o itinerário da penitência através do sacramento da reconciliação torna-se caminho obrigatório para se abeirar e participar plenamente do sacrifício eucarístico” - disse o Patriarca de Lisboa. Esta exigência de conversão e de purificação do coração para poder participar, plenamente, na comunhão eucarística, “é a mais séria interpelação posta à consciência dos cristãos”. O sacramento da reconciliação é elemento “importante na formação progressiva da própria consciência” – realçou. Quando existem casos que, devido à matéria, a situação de pecado é pública, o acesso à Eucaristia torna-se “numa profanação pública da santidade desse sacramento”. E acentua: “compete à Igreja defender, também publicamente, a santidade da Eucaristia, não admitindo à comunhão eucarística aqueles que se mantêm publicamente numa situação moral, claramente definida nas normas morais, incompatível com a santidade deste sacramento”.
Por sua vez, D. Jorge Ortiga aconselha alguns caminhos eucarísticos: “Porque não fazer então deste Ano da Eucaristia um período em que as comunidades diocesanas e paroquiais se comprometam de modo especial a ir, com fraterna solicitude, ao encontro de alguma das tantas pobrezas do nosso mundo? Penso no drama da fome que atormenta centenas de milhões de seres humanos, penso nas doenças que flagelam os Países em vias de desenvolvimento, na solidão dos idosos, nas dificuldades dos desempregados, nas adversidades dos imigrantes”. A Eucaristia terá de ser um verdadeiro “projecto de solidariedade” em prol daqueles que “nos rodeiam e das carências da humanidade” – mencionou. Na missa Crismal, D. Armindo Lopes Coelho, bispo do Porto, disse ao presbitério que “sendo expressão da Comunhão, a Eucaristia «cria comunhão e educa para a comunhão». Se criasse rupturas e provocasse divisões, a Eucaristia seria atingida na sua própria essência e contraditória nos efeitos ou consequências”. Neste sentido, a Eucaristia não é expressão de comunhão apenas na vida da Igreja; “é também projecto de solidariedade em prol da humanidade inteira” – refere o bispo do Porto na celebração. E concluiu: “fonte de solidariedade universal e escola de paz, a Eucaristia e o Sacerdócio são na Igreja as grandes coordenadas da espiritualidade sacerdotal, que deve por isso assumir uma «forma eucarística»”.
A missão do sacerdote leva-o a comunicar à sua volta “a consolação aos que andam amargurados, a derramar o óleo da alegria sobre os que se encontram abatidos, a coroar a vida humana de honra e dignidade” – apelou o bispo de Santarém, D. Manuel Pelino, na missa Crismal. No ano da Eucaristia “somos convidados a meditar no nosso ministério a partir deste centro” que “configura a nossa existência e a nossa acção”. Apesar de se notar “alguma quebra na prática dominical”, D. Manuel Pelino salienta que “possivelmente será consequência das actuais circunstâncias de dispersão e mobilidade das famílias”. A facilidade com que se falta à Missa dominical “não deixa de estar relacionada com a debilidade da fé, com a ausência de uma relação pessoal forte com o Senhor Jesus. A Missa é, muitas vezes, entendida apenas pela roupagem exterior de um cerimonial repetitivo e monótono” – afirmou o prelado de Santarém. “Não hão-de certamente faltar as vocações, se subirmos de tom a nossa vida sacerdotal, se formos mais santos, mais alegres, se nos mostrarmos mais apaixonados no exercício do nosso ministério” – desafia João Paulo II. O que leva D. Jacinto Botelho, bispo de Lamego a sublinhar na Missa Crismal que “deve ser esta a preocupação a animar o nosso trabalho de pastores, por isso mesmo um trabalho sempre de conjunto e de comunhão”.
Na diocese de Viseu, D. António Marto reflectiu, na Missa Crismal, sobre a beleza do sacerdócio. Neste tempo “de certo desencanto e cansaço que caracteriza a nossa cultura e afecta a todos, temos necessidade de redescobrir esta beleza, de reaprendê-la, de dizê-la, de novo e de maneira nova, uns aos outros e ao mundo. Ela é tão bela como no primeira dia em que nos foi dada, porque Deus não envelhece”. Por isso, convidou o seu presbitério “a contemplar a beleza do nosso sacerdócio, na sua face humano-divina, que é um reflexo da beleza de Deus em nós”. A beleza deste serviço vive-se nas relações humanas porque “é importante compreender o caminho das pessoas e fazer compreender a cada pessoa que o seu caminho não é inútil, banal e doloroso, mas também santificante, que ela é amada e objecto de atenção” – realçou o prelado de Viseu. “As missas tradicionais, particularmente se dominam a sua aplicação de sufrágio pelos defuntos, são pobres em sinais da ressurreição” - alertou o Bispo de Viana do Castelo, D. José Pedreira, durante a celebração da Missa Crismal, que se celebrou na Sé Catedral, na qual se faz memória da instituição do sacerdócio ministerial. No ano da Eucaristia, D. José Pedreira, diante dos seus padres que foram convidados a renovarem “as promessas sacerdotais, feitas no dia da ordenação presbiteral”, sublinhou que a expressão «Ceia do Senhor», tão cara aos movimentos ecuménicos hodiernos, configura uma “tríplice raiz” que constitui “o fundamento cristológico permanente da celebração eucarística e da própria vida da Igreja: a centralidade cristológica, a presença do Ressuscitado, a comensalidade”.
Na medida em que o sacerdote se deixa “envolver por esse enlevo eucarístico, conduz toda a assembleia celebrante a esse encantamento do mistério e à entrega generosa da vida”. O presidente de uma assembleia eucarística “transforma um conjunto de pessoas que se congregaram, em assembleia oferente e em povo sacerdotal” – mencionou o Patriarca de Lisboa, na Missa Crismal. Uma celebração que tem um “encanto especial” porque acontece “no ano da Eucaristia e no final do triénio que Setúbal dedicou a descobrir a Eucaristia e a aprender a prepará-la e a viver de forma eucarística” – disse D. Gilberto dos Reis, bispo de Setúbal. E acentua: “feliz o que tem a possibilidade de se reunir na Eucaristia e se organiza para participar nela e se deixa moldar pela palavra e pelo alimento que é o próprio Jesus”. Para dar significado “à nossa presença num mundo onde a fé vai desaparecendo e os valores se vaporizam ou são ridicularizados, teremos de contemplar o dom da vocação que nunca nos torna donos da vida nem permite que sejamos nós a estipular a meta” – finaliza o arcebispo de Braga, na homilia da Missa Crismal.







All the contents on this site are copyrighted ©.