Defender a santidade da Eucaristia foi o pedido dos bispos portugueses na Quinta Feira
Santa
O dia da instituição da Sagrada Eucaristia “é o momento propício para nos interrogarmos
sobre a autenticidade das nossas celebrações” – sublinhou D. Jorge Ortiga, Arcebispo
de Braga, na celebração da Ceia do Senhor, na última Quinta-Feira Santa, na Sé de
Braga. Pela santidade de que se reveste, “a Eucaristia exige a pureza e a perfeição
daqueles que a celebram. Na Eucaristia tudo deveria ser puro e perfeito” – completa
D. José Policarpo, Patriarca de Lisboa, na liturgia da Ceia do Senhor, que iniciou
o Tríduo Pascal. Obedecer ao mandato de Cristo de «Fazei isto em memória de mim»,
deve “ser um encargo que nos responsabiliza. Importa «repetir» mas urge reexaminar
o conteúdo das celebrações com os desafios que nos coloca” – adianta o arcebispo de
Braga.
Em pleno Ano da Eucaristia, D. José Policarpo referiu na mesma celebração que a “santidade
da Eucaristia continua a exigir àqueles que se preparam para a celebrar, o rito da
purificação, que já não se exprime na lavagem dos pés, mas na graça do sacramento
do perdão. Entre o sacramento da reconciliação e a Eucaristia há uma convergência
necessária”. Se o cristão tem na consciência “o peso dum pecado grave, então o itinerário
da penitência através do sacramento da reconciliação torna-se caminho obrigatório
para se abeirar e participar plenamente do sacrifício eucarístico” - disse o Patriarca
de Lisboa. Esta exigência de conversão e de purificação do coração para poder participar,
plenamente, na comunhão eucarística, “é a mais séria interpelação posta à consciência
dos cristãos”. O sacramento da reconciliação é elemento “importante na formação progressiva
da própria consciência” – realçou. Quando existem casos que, devido à matéria, a situação
de pecado é pública, o acesso à Eucaristia torna-se “numa profanação pública da santidade
desse sacramento”. E acentua: “compete à Igreja defender, também publicamente, a santidade
da Eucaristia, não admitindo à comunhão eucarística aqueles que se mantêm publicamente
numa situação moral, claramente definida nas normas morais, incompatível com a santidade
deste sacramento”.
Por sua vez, D. Jorge Ortiga aconselha alguns caminhos eucarísticos: “Porque não fazer
então deste Ano da Eucaristia um período em que as comunidades diocesanas e paroquiais
se comprometam de modo especial a ir, com fraterna solicitude, ao encontro de alguma
das tantas pobrezas do nosso mundo? Penso no drama da fome que atormenta centenas
de milhões de seres humanos, penso nas doenças que flagelam os Países em vias de desenvolvimento,
na solidão dos idosos, nas dificuldades dos desempregados, nas adversidades dos imigrantes”.
A Eucaristia terá de ser um verdadeiro “projecto de solidariedade” em prol daqueles
que “nos rodeiam e das carências da humanidade” – mencionou. Na missa Crismal, D.
Armindo Lopes Coelho, bispo do Porto, disse ao presbitério que “sendo expressão da
Comunhão, a Eucaristia «cria comunhão e educa para a comunhão». Se criasse rupturas
e provocasse divisões, a Eucaristia seria atingida na sua própria essência e contraditória
nos efeitos ou consequências”. Neste sentido, a Eucaristia não é expressão de comunhão
apenas na vida da Igreja; “é também projecto de solidariedade em prol da humanidade
inteira” – refere o bispo do Porto na celebração. E concluiu: “fonte de solidariedade
universal e escola de paz, a Eucaristia e o Sacerdócio são na Igreja as grandes coordenadas
da espiritualidade sacerdotal, que deve por isso assumir uma «forma eucarística»”.
A missão do sacerdote leva-o a comunicar à sua volta “a consolação aos que andam amargurados,
a derramar o óleo da alegria sobre os que se encontram abatidos, a coroar a vida humana
de honra e dignidade” – apelou o bispo de Santarém, D. Manuel Pelino, na missa Crismal.
No ano da Eucaristia “somos convidados a meditar no nosso ministério a partir deste
centro” que “configura a nossa existência e a nossa acção”. Apesar de se notar “alguma
quebra na prática dominical”, D. Manuel Pelino salienta que “possivelmente será consequência
das actuais circunstâncias de dispersão e mobilidade das famílias”. A facilidade com
que se falta à Missa dominical “não deixa de estar relacionada com a debilidade da
fé, com a ausência de uma relação pessoal forte com o Senhor Jesus. A Missa é, muitas
vezes, entendida apenas pela roupagem exterior de um cerimonial repetitivo e monótono”
– afirmou o prelado de Santarém. “Não hão-de certamente faltar as vocações, se subirmos
de tom a nossa vida sacerdotal, se formos mais santos, mais alegres, se nos mostrarmos
mais apaixonados no exercício do nosso ministério” – desafia João Paulo II. O que
leva D. Jacinto Botelho, bispo de Lamego a sublinhar na Missa Crismal que “deve ser
esta a preocupação a animar o nosso trabalho de pastores, por isso mesmo um trabalho
sempre de conjunto e de comunhão”.
Na diocese de Viseu, D. António Marto reflectiu, na Missa Crismal, sobre a beleza
do sacerdócio. Neste tempo “de certo desencanto e cansaço que caracteriza a nossa
cultura e afecta a todos, temos necessidade de redescobrir esta beleza, de reaprendê-la,
de dizê-la, de novo e de maneira nova, uns aos outros e ao mundo. Ela é tão bela como
no primeira dia em que nos foi dada, porque Deus não envelhece”. Por isso, convidou
o seu presbitério “a contemplar a beleza do nosso sacerdócio, na sua face humano-divina,
que é um reflexo da beleza de Deus em nós”. A beleza deste serviço vive-se nas relações
humanas porque “é importante compreender o caminho das pessoas e fazer compreender
a cada pessoa que o seu caminho não é inútil, banal e doloroso, mas também santificante,
que ela é amada e objecto de atenção” – realçou o prelado de Viseu. “As missas tradicionais,
particularmente se dominam a sua aplicação de sufrágio pelos defuntos, são pobres
em sinais da ressurreição” - alertou o Bispo de Viana do Castelo, D. José Pedreira,
durante a celebração da Missa Crismal, que se celebrou na Sé Catedral, na qual se
faz memória da instituição do sacerdócio ministerial. No ano da Eucaristia, D. José
Pedreira, diante dos seus padres que foram convidados a renovarem “as promessas sacerdotais,
feitas no dia da ordenação presbiteral”, sublinhou que a expressão «Ceia do Senhor»,
tão cara aos movimentos ecuménicos hodiernos, configura uma “tríplice raiz” que constitui
“o fundamento cristológico permanente da celebração eucarística e da própria vida
da Igreja: a centralidade cristológica, a presença do Ressuscitado, a comensalidade”.
Na medida em que o sacerdote se deixa “envolver por esse enlevo eucarístico, conduz
toda a assembleia celebrante a esse encantamento do mistério e à entrega generosa
da vida”. O presidente de uma assembleia eucarística “transforma um conjunto de pessoas
que se congregaram, em assembleia oferente e em povo sacerdotal” – mencionou o Patriarca
de Lisboa, na Missa Crismal. Uma celebração que tem um “encanto especial” porque acontece
“no ano da Eucaristia e no final do triénio que Setúbal dedicou a descobrir a Eucaristia
e a aprender a prepará-la e a viver de forma eucarística” – disse D. Gilberto dos
Reis, bispo de Setúbal. E acentua: “feliz o que tem a possibilidade de se reunir na
Eucaristia e se organiza para participar nela e se deixa moldar pela palavra e pelo
alimento que é o próprio Jesus”. Para dar significado “à nossa presença num mundo
onde a fé vai desaparecendo e os valores se vaporizam ou são ridicularizados, teremos
de contemplar o dom da vocação que nunca nos torna donos da vida nem permite que sejamos
nós a estipular a meta” – finaliza o arcebispo de Braga, na homilia da Missa Crismal.