Surto de febre hemorrágia em Angola: situação gravissima.Necessária a colaboração
internacional.
O número de mortos da febre hemorrágica provocada pelo vírus de Marburgo continuava
ontem a subir em Angola: o último balanço oficial apontava para 122 vítimas, a última
das quais um bebé de um ano. Parece inevitável que este se torne o maior surto desta
doença infecciosa desde a sua descoberta em 1967.
O vírus de Marburgo - que se propaga através de fluidos corporais estava até há poucos
dias circunscrito à cidade do Uíje, na província com o mesmo nome, tendo chegado entretanto
à capital, Luanda, onde há sete pessoas infectadas, duas das quais já morreram, e
também à província de Cabinda, onde foi referenciada uma vítima mortal.
A situação é "gravíssima" com o número de vítimas mortais a subir para 122, estando
o surto na eminência de se tornar o mais grave de sempre, ultrapassando os 123 mortos
registados na República Democrática do Congo, entre 1998 e 2000.
Autoridades angolanas e organizações internacionais estão a equipar os profissionais
de saúde, a instalar laboratórios de rastreio e a sensibilizar a população para os
riscos de contágio.
A necessidade da cooperação internacional foi ontem sublinhada pelo director de Saúde
da província de Luanda, Vita Mvemba, que denunciou a falta de médicos no país. "Nem
todos os médicos estão disponíveis para participar na luta contra o vírus de Marburgo.
Muitos deles recusam-se a colaborar devido às más condições de trabalho, nomeadamente
aos salários baixos", declarou Vita Mvemba, citado pela AFP.
Outra das contribuições dadas pelos membros da Organização Mundial de Saúde é a instalação
de um laboratório no hospital de Uíje que permitirá fazer as análises para identificar
o vírus de Marburgo. Até agora, esse exame era feito num laboratório em Atlanta, nos
Estados Unidos.
O esforço de combate à epidemia passa também por sensibilizar a população para os
perigos do contágio. Em alguns casos, as famílias ficam com o corpo do doente em casa,
o que acaba por facilitar a propagação do vírus.
À luz da tradição local, é comum os parentes abraçarem o cadáver, exemplifica o bispo
do Uíje, D. Francisco da Mata Mourisca, empenhado no esforço de esclarecimento da
população.
Os cuidados a ter - evitar contactos corporais e com as secreções do corpo, bem como
rejeitar comer carne de caça - estão a ser divulgados em igrejas e escolas, afirmou
ao PÚBLICO o bispo do Uíje, reconhecendo que em geral "as pessoas não sabem como se
propaga".
No domingo, durante a missa de celebração da Páscoa, D. Francisco da Mata Mourisca
exortou os fiéis da Igreja Católica a colaborarem com as autoridades sanitárias no
combate ao surto epidémico.