2005-03-23 14:56:37

A Piedade Popular no Tempo Pascal


A piedade popular é muito rica em expressões que ajudam os fiéis a viver o mistério pascal. É verdade que o sentimento religioso do povo se concentrou prevalentemente no tempo da paixão e na experiência do sofrimento redentor. Mas se é inegável a tendência «passionista» da piedade popular, profundamente marcada pela tradição franciscana que se compraz na contemplação da humanidade de Jesus tanto na humildade do presépio como no despojamento da cruz, nem por isso deixa de haver interessantes expressões centradas na vivência da vertente gloriosa da Páscoa.
O «Directório sobre a piedade popular e a Liturgia» da Congregação para o Culto Divino e a disciplina dos Sacramentos,passa em revista algumas dessas práticas de piedade, antigas e mais recentes. Vejamos o elenco: o encontro do Ressuscitado com a Mãe (n. 149); a bênção da mesa familiar (n. 150); a saudação pascal à Mãe do Ressuscitado (n. 151); a bênção anual das famílias nas suas casas (n. 152); a «Via lucis» (n. 153); a devoção à misericórdia divina (n. 154); e a novena de Pentecostes (n. 155); neste contexto importa referir também a celebração do «Mês de Maria» que importa harmonizar com a celebração litúrgica do tempo pascal dado que ocorre em Maio (n. 191). Todas estas expressões cultuais «exaltam a condição nova e a glória de Cristo ressuscitado, e também as energias divinas que dimanam da sua vitória sobre o pecado e sobre a morte» (n. 148).
O exercício de piedade do Encontro da Mãe com o Filho ressuscitado é uma espécie de contraponto das procissões «do encontro» da Mãe com o Filho no caminho da Cruz: «na manhã de Páscoa dois cortejos, um levando a imagem da Mãe das Dores, o outro a de Cristo ressuscitado, encontram-se para significar que a Virgem foi a primeira e plena participante do mistério da ressurreição do Filho».
«Entre os exercícios de piedade que se relacionam com o evento da Páscoa há a tradicional bênção dos ovos, símbolo da vida, e a bênção da mesa familiar; esta última, que em muitas famílias cristãs é um costume diário que deve encorajar-se, adquire um significado especial no dia de Páscoa» (n. 150).
«Nalguns lugares, no fim da Vigília pascal ou depois das II Vésperas do Domingo de Páscoa, faz-se um breve exercício de piedade: benzem-se flores que serão distribuídas aos fiéis em sinal de alegria pascal e presta-se uma homenagem à imagem da Senhora das Dores que, por vezes, é coroada, enquanto se canta o Regina caeli. Os fiéis, que se tinham associado à dor da Virgem pela Paixão do Filho, querem assim alegrar-se com ela pelo acontecimento da ressurreição» (n. 151).
«Durante o tempo pascal – ou noutros períodos do ano – realiza-se a bênção anual das famílias, visitadas nas suas casas. Recomendado ao cuidado pastoral dos párocos e dos seus colaboradores, este costume muito sentido pelos fiéis é uma preciosa ocasião para fazer ecoar nas famílias cristãs a recordação da constante presença abençoadora de Deus, o convite para viver em conformidade com o Evangelho e a exortação aos pais e aos filhos para que guardem e promovam o mistério da sua essência de “igreja doméstica”» (n. 152).
A Via Lucis inspira-se na Via Crucis [Via-Sacra], segundo o adágio: «per crucem ad lucem» (pela cruz para a luz). «Os fiéis, percorrendo um caminho, meditam nas várias aparições em que Jesus – da Ressurreição à Ascensão, na perspectiva da Parusia – manifestou a sua glória aos discípulos à espera do Espírito prometido (cf. Jo 14, 26; 16, 13-15; Lc 24, 49), confortou a sua fé, completou os ensinamentos sobre o Reino, definiu ulteriormente a estrutura sacramental e hierárquica da Igreja» (n. 153). No contexto da «cultura de morte» que caracteriza a nossa actualidade, o Directório recomenda este exercício de piedade.
A devoção à misericórdia divina, muito difundida por Santa Faustina Kowalska, tem como momento significativo o Domingo da Oitava da Páscoa que, actualmente, é designado pela Liturgia como a Liturgia do «segundo domingo da Páscoa ou da divina misericórdia». Centra os fiéis na devoção «à misericórdia divina prodigalizada por Cristo morto e ressuscitado, fonte do Espírito que perdoa e restitui a alegria de se ser salvo» (n. 154).








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