Domingo de Ramos na Praça de São Pedro: "Não tenhais medo"!
Domingo de Ramos de 2005, Praça de São Pedro. Em 1985, neste mesmo local, sob a presidência
de um João Paulo II no máximo do seu vigor, tinha lugar um encontro de jovens que
ficaria considerado como o I Dia Mundial da Juventude. Recordou-o agora, a vinte anos
de distância, o próprio Papa, na alocução do Angelus, ao meio-dia, no final da Eucaristia
celebrada pelo Cardeal Camilo Ruini, Vigário do Papa para a diocese de Roma, com a
participação de milhares de fiéis, em grande parte jovens.
Num texto pronunciado em seu nome (como vem sendo uso, nos últimos tempos, nesta
circunstância), pelo arcebispo D. Leonardo Sandri, da Secretaria de Estado, João Paulo
II, dirigindo-se especialmente aos jovens, mencionou o Encontro Mundial da Juventude
que terá lugar no próximo mês de Agosto, “em Colónia, no coração da Alemanha e da
Europa”. Venerando-se na “estupenda catedral daquela cidade” as relíquias do santos
Magos, estes tornaram-se, em certo sentido, os guias dos jovens a caminho deste Encontro
Mundial, num itinerário espiritual e catequístico sob o lema “Viemos para adorá-Lo”.
“Vós hoje adorais a Cruz de Cristo, que levais a todo o mundo, porque acreditastes
no amor de Deus, que se revelou plenamente em Cristo crucificado” – sublinhou João
Paulo II, confidenciando tomar “cada vez mais consciência de quanto foi providencial
e profético” que tenha sido precisamente este Domingo de Ramos e da Paixão a tornar-se
o Dia da Juventude. De facto, “esta festa contém uma graça especial, a graça da alegria
unida à Cruz, que resume em si o mistério cristão”.
E o Papa concluiu convidando os jovens a “prosseguirem incansavelmente o caminho
empreendido para serem, por toda a parte, testemunhas da Cruz gloriosa de Cristo”.
“Não tenhais medo! Que a alegria do Senhor – crucificado e ressuscitado, seja a vossa
força! E que Maria Santíssima esteja sempre ao vosso lado!”
Não obstante a ausência física do Papa, sentia-se intensamente a sua presença espiritual,
bem significada na imagem da conhecida janela dos seus aposentos, aberta de par em
par. A assembleia pôde assim viver toda a celebração em profunda união com o Santo
Padre, pelo qual se rezou, em português, na Oração dos Fiéis.
Especialmente tocante a conclusão da homilia do Cardeal Ruini, aludindo à agonia
sofredora e fecunda de Jesus, da qual participa, de algum modo, neste momento, na
sua debilidade e sofrimento físico, João Paulo II. “Perante Jesus crucificado – exortou
o purpurado – recordemo-nos das palavras de Jesus “Vinde a mim, vós todos, fatigados
e oprimidos, e eu vos confortarei força. O meu jugo é suave e a minha carga leve”.
Sim, a cuz de Jesus não deprime nem enfraquece. Pelo contrário, dela vêm energias
sempre novas, as que (energias) que resplendem nas empresas dos Santos e que tornaram
fecunda a história da Igreja, (assim como) aquelas que hoje transparecem com especial
clareza do rosto fatigado do Santo Padre. Confiemos, pois, no Senhor crucificado e
ressuscitado. Ponhamos a nossa vida nas suas mãos, como ele pôs a sua vida nas mãos
de Deus Pai”.
Grande comoção e alegria suscitou o momento em que, depois da recitação do Angelus
e da bênção final (da parte do cardeal Ruini), o Santo Padre assomou à janela dos
seus aposentos, saudando e abençoando todos, repetidamente, com um ramo de oliveira
na mão. Saudação naturalmente correspondida com uma vibrante ovação, acompanhando
o cântico final.