A Igreja Católica em Angola vive tempos complicados. Primeiro, porque Cabinda é um
caso muito sério, sem soluções à vista e a nomeação de um Bispo natural de Luanda
foi mal recebida pelos círculos pró-independência. Nem as explicações oficiais que
recordaram que dos 17 Bispos de Angola 14 não são oriundos da Diocese a que presidem,
convenceram os que se manifestaram contra tal nomeação de Roma. Segundo, porque em
alguns dos municípios do interior, os responsáveis partidários querem exigir, á força,
que os líderes das comunidades cristãs (catequistas) sejam os responsáveis dos partidos
nas aldeias. E mais: em alguns lugares, há quem force a substituição do culto dominical
por um comício político! Também sobre este assunto delicado se teve que pronunciar
a Conferência Episcopal. Terceiro, porque a feitiçaria e práticas afins estão de tal
modo a ganhar terreno e a fazer barbaridades que a Igreja Católica se viu obrigada
a promover uma iniciativa nacional que permita uma reflexão séria sobre este assunto.
Quarto, porque a Rádio Ecclesia, muito bem cotada e escutada em Luanda, não tem licença
do governo para emitir no resto do país. Os Bispos bem lutam por esta causa, mas o
Governo sabe que se a Ecclesia for escutada em todo o país, a liberdade de expressão
e de opinião poderá custar muito caro à governação actual, em tempo de pré-campanha
eleitoral.
Mas, no meio deste ‘tsunami’,como salienta o espiritano Padre Tony Neves neste comentário
publicado pela agencia Ecclesia, emerge o rosto mais brilhante da Igreja Católica
em Angola: a sua incansável luta pela paz e pela democracia, sempre em defesa dos
direitos humanos. O II Congresso Pro-Pace (pela Paz), realizado na Universidade Católica,
de 2 a 6 de Março, que levou o Professor Cavaco Silva a Luanda, apresentou dez conclusões
corajosas, sete das quais falam de democracia:1. Democracia e desenvolvimento; 2.
Direitos humanos e democracia; 3. Eleições e democracia.; 4. Alternância do poder
e democracia; 5. Oposição e democracia; 6. Liberdade de imprensa e democracia;7. Cidadania
e democracia; 8.Unidade e pluralidade; 9. Doutrina Social da Igreja; 10. Congressos
diocesanos. (ver texto integral das Conclusões na página 4).
Foi um Congresso assente na esperança de que dias melhores estão a ser preparados
para o povo mártir de Angola. Para tal, há que combater a corrupção, investir no desenvolvimento
e, sobretudo, cimentar a paz e construir a democracia. Por isso, o tema das eleições
livres foi o mais repetido. Sem elas, não há governo que se apresente de cara lavada.
D. Francisco da Mata Mourisca, o Presidente do Movimento Pro-Pace, foi claro ao apontar
o grande objectivo do Congresso: ‘preparar um ambiente de confiança para as eleições
e também para que as eleições se realizem de uma forma transparente, sem dar ocasião
à desconfiança e à contestação”.