A diplomacia da Santa Sé quer ser uma “humilde semente de paz”, mais do que uma “protagonista
do cenário internacional”, assegura o secretário para as Relações com os Estados.
D. Giovanni Lajolo
O arcebispo Lajolo, em declarações concedidas à agência televisiva “Rome Reports”,
fala do actual processo de reforma das Nações Unidas, pedindo que se precisem “muito
claramente as novas prerrogativas particulares” que se propõem para facilitar a acção
da ONU “na prevenção de conflitos”. Em particular, o arcebispo italiano considera
que é necessário fazer possível “uma intervenção humanitária, ou seja, uma intervenção
que tenha por objectivo desarmar o agressor injusto”.
D.Lajolo ilustra a contribuição oferecida por João Paulo II nestes mais de 26 anos
de pontificado à diplomacia, constatando que as representações pontifícias (nunciaturas)
passaram de 107 para 174, sem contar com as 17 representações perante as organizações
internacionais.
O prelado reconhece que em certas ocasiões a acção diplomática da Santa Sé experimentou
fracassos, como em tempos de Bento XV e Pio XII antes das duas guerras mundiais, ou,
recentemente, no caso de João Paulo II por ocasião da guerra no Iraque. “Mas a história
deu razão aos Papas. Infelizmente, quando se amordaça a diplomacia, falam as armas”,
constata.
“Quero acrescentar que, além dos conhecidos casos de êxito ou fracasso da diplomacia
vaticana, há toda uma actividade diplomática da Santa Sé, coberta pela necessária
reserva, orientada para superar os contrastes, expor as razões e as expectativas da
outra parte, propor possíveis pontos de encontro”, sublinha.
No que se refere ao processo de paz na Terra Santa e no Iraque, D. Lajolo afirma que
“o primeiro auspício é o cessar de qualquer acto de violência”. “Depois, requer-se
que comece um diálogo sério entre as autoridades israelitas e palestinianas, ou seja,
um diálogo no qual cada interlocutor não só apresente, como é óbvio, as suas próprias
petições, mas se comprometa a fundo para compreender as boas razões da outra parte”,
indica.
As populações cristãs dessas terras preocupam D. Lajolo, pois há o perigo de um êxodo
pela situação de marginalização em que se encontram, apesar de que são minorias que
estão ali presentes desde os tempos dos apóstolos. Por este motivo, assegura, “a Igreja
e a Santa Sé não podem sentir-se alheias às negociações em curso”.
A África também preocupa profundamente o Papa e a Santa Sé, explica o prelado, em
particular a situação de alguns países, como os da região dos Grandes Lagos, “nos
quais a situação político-social é humanamente insuportável”.
O secretário vaticano para as relações com os Estados aplaude a onda de solidariedade
suscitada no sudeste asiático após o tsunami de 26 de Dezembro, mas pede que continue
“durante muito tempo” esta “obra de auxílio às populações e de reconstrução”. Em particular,
reconhece que fazem falta “projectos de grande alcance, alongo prazo, ajustados com
os países dispostos a realizar investimentos específicos”.