Diálogo entre as disciplinas humanisticas e cientificas para superar o fosso existente
entre fé e ciencia
O Vaticano deseja superar o fosso existente entre fé e ciência, explicando que “a
sociedade e a cultura modernas têm necessidade de um diálogo entre as disciplinas
humanísticas e científicas”.
A posição foi assumida pelo Cardeal Paulo Poupard, presidente do Conselho Pontifício
da Cultura (CPC), que esta sexta feira apresentou a segunda fase do projecto STOQ
(Science, Theology and the Ontological Quest - ciência, teologia e a busca ontológica),
um dos mais prestigiados programas de investigação sobre as relações entre ciência,
filosofia e teologia.
A iniciativa é coordenada pelo CPC envolvendo três universidades pontifícias romanas
(Lateranense, Gregoriana e Regina Apostolorum).
“O extraordinário desenvolvimento das ciências e das tecnologias, carregado de promessas
para a humanidade, não está isento do risco de que estes progressos sejam utilizados
não para o homem, mas contra o homem, não para o bem comum, mas para o interesse de
alguns – sejam eles indivíduos, grupos ou nações inteiras”,.
O Card. Poupard espera que os últimos quatro séculos de confrontos entre “a cultura
humanística e científica” não tenham passado em vão, alertando para a necessidade
de que estes mundos sejam capazes de entender-se e eliminar preconceitos.
“O preconceito da ciência sobre a religião é o de vê-la como resíduo de um passado
mítico e irracional. O preconceito da religião sobre a ciência é o de vê-la como um
tentativa de reduzir o mundo e a humanidade à matéria, em nome de uma racionalidade
ideologizada e abstracta”, esclareceu.
Como exemplo do caminho a percorrer, o Cardeal Poupard apresentou a Comissão de Estudo
do Caso Galileu, que João Paulo II instituiu em 1981, através da qual o Papa quis
“purificar a memória histórica da Igreja”.
Sobre as relações entre fé e ciência, o presidente do CPC acredita que é possível
“estabelecer pontes seguras e trocas frutuosas entre ciência, filosofia e teologia,
através do diálogo dos seus respectivos cultores”.
O STOQ pretende, assim, “colocar este diálogo no centro dos interesses do debate cultural
no mundo católico, começando desde a formação dos estudantes das universidades pontifícias
romanas”.