2004-08-12 19:59:43

A 30 anos da morte de Frei Tito, a família poderá receber indenização do governo brasileiro


Brasília, 11 ago (RV)- A Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República informou ontem, no 30º aniversário da morte de Frei Tito, que a Comissão Especial dos Mortos e Desaparecidos Políticos, criada pela Lei 9.140/95, vai analisar o pedido de indenização aos familiares do frade dominicano que foi perseguido pela ditadura militar.

O Secretário Especial de Direitos Humanos, Ministro Nilmário Miranda, irá acompanhar pessoalmente a reunião em que será apreciado o pedido, no anexo II, sala 504, do Ministério da Justiça. A Secretaria informa que, na ocasião, outros processos também serão julgados pela Comissão Especial.

O caso de Frei Tito será apreciado com base na Medida Provisória editada pelo governo em 25 de março deste ano _ e convertida em lei _ que estendeu a indenização a familiares de pessoas que cometeram suicídio forçado por causa dos traumas psicológicos resultantes da tortura ou foram mortas em passeatas e manifestações políticas em confronto com a polícia, de 2 de setembro de 1961 a 5 de outubro de 1988.

Até então, a legislação permitia indenização somente para familiares de pessoas que foram mortas em dependência policial ou semelhante.

Frei Tito morreu em L’Arbresle no sul da França, em 1974. Ele nasceu em Fortaleza (CE), onde foi dirigente nacional e regional da Juventude Estudantil Católica (JEC). Em 1968, em São Paulo, foi preso acusado de oferecer infra-estrutura a Carlos Marighela, líder da Ação Libertadora Nacional (ALN). Em fevereiro de 1970, Frei Tito foi retirado do Presídio Tiradentes e levado para a Operação Bandeirantes, conhecida como DOI-CODI onde foi duramente torturado. Expulso do Brasil em 13 de janeiro de 1971, ele viajou para o Chile, Itália e depois se exilou em Paris, na França.

Mais tarde foi transferido para L’Arbresle, próximo a Lyon. Tito não superou o trauma e começou a relembrar as cenas de tortura sofrida por seus pais, irmãos e as que ele mesmo vivenciou. No dia 10 de agosto de 1974, com apenas 29 anos de idade, Frei Tito enforcou-se numa árvore em L’Arbresle.

Foi enterrado no cemitério dominicano Sainte Marie de La Tourette, em L´Arbresle. Na cruz, ficou escrito: Frei da Província do Brasil. Encarcerado, torturado, banido, atormentado... até a morte, por ter proclamado o Evangelho, lutando pela libertação de seus irmãos. Tito descansa nesta terra estrangeira. “Digo-vos que, se seus discípulos calarem, até as pedras clamarão”. (Lucas 19, 40)

No dia 25 de março de 1983, o corpo de Frei Tito chegou ao Brasil. Era desejo da família, de ter seu túmulo na cidade onde ele nascera. A legenda que diz “Tito descansa nesta terra estrangeira” foi substituída por “Tito hoje descansa junto ao seu povo”.

Antes de chegar a Fortaleza, passou por São Paulo, onde foi realizada, no mesmo dia 25 de março, uma celebração litúrgica em memória de dois mortos pela ditadura: o próprio Frei Tito e Alexandre Vannucchi. Cercado por bispos e um numeroso grupo de sacerdotes, Dom Paulo Evaristo repudiou a tragédia da tortura em missa de corpo presente. Na Catedral, havia mais de 4 mil pessoas.

No dia 28 de fevereiro de 2002, foi criado, no Museu do Ceará, o Memorial Frei Tito. (MZ)








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