2004-06-03 17:28:56

Serra Leoa inicia julgamento de criminosos de guerra


Freetown, 03 jun (RV)- Sorie Sawaneh foi obrigado a cortar o próprio antebraço diante de homens armados, depois que o facão do comandante deles não conseguiu amputá-lo completamente. Como outras pessoas de Serra Leoa que perderam membros do corpo, Sawaneh queria justiça, uma vez terminada a guerra civil no país: uma das mais brutais registradas no continente africano.

Nesta quinta-feira, dois anos e meio depois da conclusão do conflito, um tribunal formado com o apoio da Organização das Nações Unidas (ONU) começou a julgar os mentores dos crimes de guerra. Mas muitas das vítimas dos vários anos de estupros e mutilações em massa dizem que o resultado dos julgamentos mudará em pouco a vida delas.

“Os observadores da comunidade internacional vêm aqui e olham a situação. Depois, falam, falam e falam, enquanto nós continuamos sem nada. Dizemos: “Obrigado!” Mas não conseguimos cuidar nem de nós mesmos, que dirá daqueles que dependem de nós” _ afirmou Sawaneh, de 65 anos, um ex-motorista, que agora vive num campo de refugiados perto de Freetown, capital de Serra Leoa.

Escondido atrás de muros de concreto no centro da cidade, e defendido por soldados da ONU, a Corte Especial de Serra Leoa é a primeira do tipo montada no país onde os crimes foram cometidos. Mas seu mandato limitado _ julgar os responsáveis pelas maiores atrocidades cometidas durante a guerra _ significa que milhares de ex-combatentes envolvidos em saqueios, estupros e assassinatos nunca serão submetidos a um julgamento.

“No que me diz respeito, a coisa mais importante é saber como conseguirei sustentar a mim e a meus filhos” _ afirmou Kadiatu Fofanah, de 44 anos, mãe de nove crianças. As pernas dela foram amputadas pelos rebeldes, à altura do quadril.

Alguns acreditam que o dinheiro gasto com a Corte Especial poderia ser empregado para suprir algumas das muitas carências do país. “Temos problemas mais graves do que esse julgamento, que não passa de um golpe de relações públicas” _ afirmou Al Haj Abubakarr Jalloh, membro do partido de oposição, Congresso do Povo Todo.

“O dinheiro gasto com a Corte Especial poderia ter sido usado, por exemplo _ acrescentou _ para fornecer energia elétrica para todo o país.” (AF)








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