2004-06-02 19:41:14

Último adeus dos povos indígenas de Roraima a Dom Apparecido


Boa Vista, 02 jun (RV)- “Dom Apparecido, obrigado por ter-nos amado, por ter estendido as mãos aos povos indígenas, aos pequenos e aos mais necessitados”: com essas palavras, o Conselho Indígena de Roraima, em nome de todos os povos autóctones do estado de Roraima, na região amazônica brasileira, se despediu de Dom Apparecido José Dias, falecido no sábado, dia 29 de maio.

Dom Apparecido, missionário verbita, que já havia sido alvo de intimidações e ameaças junto com os agentes pastorais de sua diocese, pelo constante compromisso ao lado dos povos indígenas, “esteve sempre presente nos momentos importantes de nossa vida, oferecendo a sua ajuda”, recorda o Conselho, numa nota enviada à agência missionária de notícias Misna.

“Expressamos a nossa eterna gratidão, pela sua firmeza e pela honestidade de suas palavras, ao defender os nossos direitos. Somos também agradecidos pelos seus dois mandatos na presidência do Conselho Indigenista Missionário (CIMI) e pelo seu compromisso no episcopado, nestes sete anos em que guiou a diocese de Roraima.”

“Dom Apparecido _ prosseguem os dirigentes indígenas _ obrigado por sua amizade e pela amizade que estreitamos com os não-índios, a partir da campanha “Nós existimos”, proposta e apoiada pelo senhor em 2003, quando começamos a nos sentir parte dos outros movimentos sociais de Roraima, com o objetivo de construir uma sólida aliança entre os índios, camponeses e trabalhadores da cidade, para encontrar juntos, a solução para os problemas comuns de todos os excluídos.”

“A convicção de suas idéias, a simplicidade, a abertura ao diálogo e o respeito pela cultura e pela religião indígenas _ dizem ainda _ eram grandes estímulos para todas as comunidades que lutam há mais de 30 anos pela tutela dos nossos direitos, sancionados pela Constituição brasileira.”

“Um dia o senhor nos disse _ recordam _ “Os vossos passos lentos vencerão a luta e continuarão a vencê-la” (Maturuca, 9 de fevereiro de 2004). As suas palavras e a sua consideração pela nossa organização social, pelas nossas crenças, costumes e tradições nos mostraram um profeta que viu um novo céu, um novo canto e uma nova terra. Uma terra livre, com dignidade e vida plena.”

A morte de Dom Apparecido ocorre num momento delicado para os povos indígenas de Roraima, em particular para os 15 mil índios Macuxi, Wapixana, Ingarikó, Patamona e Taurepang, que habitam a reserva Raposa Serra do Sol, e aguardam, desde 1998, o decreto de homologação, ou seja, o direito à posse definitiva e ao usufruto permanente e exclusivo dos seus recursos: uma batalha dentre as tantas que Dom Apparecido sustentou e acompanhou até o último momento de sua vida. (MZ)








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